por Piter Kehoma Boll
Como bem sabemos, os crustáceos formam o grupo de artrópodes mais diverso tanto morfológica quando ecologicamente. Um clado peculiar é o dos arguloídeos ou piolhos-de-peixe.
Como você deve deduzir pelo nome comum, piolhos-de-peixe são parasitas de peixes e eventualmente de outros vertebrados. Uma das espécies mais comuns e conhecidas é Argulus foliaceus, chamada comumente de piolho-de-peixe-comum.
O piolho-de-peixe-comum é encontrado em corpos de água doce da Europa e parasita várias espécies diferentes de peixe. Seu único alimento é sangue de peixe, de forma que ele é obrigado a procurar um hospedeiro assim que eclode do ovo. Assim que encontram um peixe, os piolhos-de-peixe se prendem firmemente à sua pele e permanecem ali a maior parte da vida, só deixando o hospedeiro para acasalar ou se o hospedeiro morre e se torna necessário encontrar um hospedeiro novo. Trutas, percas, pardelhas e esgana-gatas são hospedeiros frequentes do piolho-de-peixe-comum.
O primeiro e único estágio larval, chamado de metanáuplio, mede menos de 1 mm de comprimento e possui antenas e palpos longos e plumosos, mas pernas relativamente curtas. As pernas torácicas possuem garras, no entanto, e ajudam a larva a se prender no hospedeiro. No segundo estágio, já um jovem adulto, as antenas se tornam muito mais curtas, mas as pernas crescem mais, especialmente as pernas abdominais, que se tornam plumosas como as antenas costumavam ser. Daí em diante, o corpo permanece com uma forma mais ou menos constante, mas aumenta de tamanho, atingindo cerca de 6 mm no décimo primeiro estágio.
Em ambientes naturais, o número de piolhos-de-peixe-comuns por peixe é geralmente pequeno e eles não prejudicam o hospedeiro tanto assim. Contudo, em habitats confinados, como criadouros de peixe, eles podem atingir densidades altas e acabar causando uma elevada mortalidade.
Assim como muitos outros parasitas externos e outros tipos de animais sugadores de sangue, o piolho-de-peixe-comum pode servir como hospedeiro intermediário de alguns parasitas nematódeos que infectam peixes de água doce. Os estágios larvais do verme chegam ao piolho-de-peixe quando ele se alimenta de peixes infectados e permanecem em seu corpo, eventualmente infectando um novo peixe quando o crustáceo abandona seu lar atual e procura por um novo.
Assim, às vezes o maior problema que o peixe enfrenta não é o piolho-de-peixe em si, mas sim seus caroneiros.
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Mais maxilópodes:
Sexta Selvagem: Cálano-glacial (em 1 de julho de 2016)
Sexta Selvagem: Percebe-comum (em 31 de maio de 2019)
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Referências:
Harrison AJ, Gault NFS, Dick JTA (2006) Seasonal and vertical patterns of egg-laying by the freshwater fish louse Argulus foliaceus (Crustacea: Branchiura). Diseases of Aquatic Organisms 68:167–173.
Molnár K, Székely C (1998) Occurrence of skrjabillanid nematodes in fishes of Hungary and in the intermediate host, Argulus foliaceus. Acta Veterinaria Hungarica 46(4): 451-463.
Pasternak AF, Mikheev VN, Valtonen ET (2000) Life history charactheristics of Argulus foliaceus L. (Crustacea: Branchiura) populations in Central Finland. Annales Zoologici Fennici 37: 25–35.
Rushton-Mellor SK, Boxshall GA (1994) The developmental sequence of Argulus foliaceus (Crustacea: Branchiura). Journal of Natural History 28(4): 763–785. doi: 10.1080/00222939400770391
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