Arquivo do mês: julho 2019

Novas Espécies: Julho de 2019

por Piter Kehoma Boll

Aqui está uma lista de espécies descritas este mês. Ela certamente não inclui todas as espécies descritas. Você pode ver a lista de periódicos científicos usados para o levantamento de novas espécies aqui.

Bactérias

SARs

Primulina cerina é uma nova angiosperma da China. Créditos a Li et al. (2019).*
Tashiroea villosa é outra nova angiosperma da China. Credits to Zhou et al. (2019).*

Plantas

Guatteria aliciae é uma nova angiosperma do Panamá. Créditos a Maas et al. (2019).*
Rhaptopetalum rabiense é uma nova angiosperma do Gabão. Créditos a Kenfack & Nguema (2019).*

Fungos

Dicephalospora yunnanica é um novo fungo da China. Créditos a Zheng & Zhuang (2019).*
Amanita ahmadii é um novo cogumelo do Paquistão. Créditos a Jabeen et al. (2019).

Poríferos

Rotíferos

Platelmintos

Anelídeos

Moluscos

Sinochloritis lii é uma nova espécie de caracol da China. Créditos a Wu et al. (2019).*

Quinorrincos

Nematódeos

Tardígrados

Aracnídeos

Hyleoglomeris roukouqu é um novo milípede da China. Créditos a Liu & Winne (2019).*

Miriápodes

Sarothrogammarus yiiruae é um novo anfípode da China. Créditos a Zheng et al. (2019).*
Hyalella puna é um novo anfípode da Argentina. Créditos a Peralta & Miranda (2019).*

Crustáceos

Geosesarma mirum é um novo caranguejo semi-terrestre de Taiwan. Créditos a Shy & Ng (2019).*
Macrobrachium laevis é um novo camarão da China. Créditos a Zheng et al. (2019).*

Hexápodes

Paranthrenella helvola é uma nova espécie de mariposa de Taiwan. Créditos a Liang & Hsu (2019).*
Scolopsis lacrima é um novo peixe da Nova Caledônia. Créditos a Nakamura et al. (2019).*

Actinopterígios

Cirrhilabrus wakanda é um novo peixe da Tanzânia. Créditos a Tea et al. (2019).*
Nidirana yaoica é uma nova rã da China. Créditos a Lyu et al. (2019).*

Anfíbios

Cnemaspis tarutaoensis é uma nova lagartixa da Tailândia. Créditos a Ampai et al. (2019).*

Répteis

Mamíferos

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Sexta Selvagem: Milípede-Português

por Piter Kehoma Boll

Milípedes, também chamados de piolhos-de-cobra, gongolôs ou embuás, compreendem a classe Diplopoda e são artrópodes muito fofos na minha opinião. Esta classe inclui espécies incríveis, como o animal com o maior número de pernas no mundo. Muitas espécies são, no entanto, pouco estudadas. Contudo uma que é muito bem conhecida é o milípede-português Ommatoiulus moreleti.

Como seu nome comum sugere, o milípede-português é nativo de Portugal, mais precisamente do sul de Portugal e de regiões próximas na Espanha, vivendo no solo de florestas de pinho e carvalho. Seu corpo, medindo cerca de 4 cm quando adulto, possui o formato cilíndrico e alongado típico visto na maioria dos milípedes e é muito escuro, quase preto, com pernas de uma cor mais clara, geralmente esbranquiçadas, mas às vezes arroxeadas.

Um milípede-português em Portugal. Foto de Romulo Arrais.*

Apesar de seu tamanho relativamente pequeno, o milípede-português leva mais de um ano para atingir a maturidade e cresce por cerca de três anos. O período de acasalamento é geralmente durante o outono e, após ter seus ovos fertilizados, a fêmea põe de 60 a 80 deles em uma câmara de cerca de 2 cm de profundidade no solo. Quando os ovos eclodem, o primeiro estágio é um animal pequeno, pupoide e sem patas que permanece dentro de uma membrana até sofrer uma muda e se tornar uma larva de seis pernas. Durante o primeiro ano, o juvenil faz a muda cerca de oito vezes e o número de pernas aumenta a cada novo estágio. Lá pelo estágio 10, eles estão sexualmente maduros, mas continuam a fazer a muda e ganhar mais pernas até atingirem cerca de 90 pernas no 14º estágio. Os machos apresentam uma estratégia reprodutiva interessante chamada de periodomorfismo, em que indivíduos maduros sofrem uma muda e se tornam “castrados”, com órgãos sexuais reduzidos, tornando-se sexualmente maduros de novo na próxima muda, apenas para voltarem à forma castrada na seguinte e assim sucessivamente.

O milípede-português ficou famoso depois de sua introdução acidental no sudeste da Austrália, aparentemente nos anos 1950. Ele logo se tornou uma espécie muito abundante e, como consequência, um incômodo. Como a maioria dos milípedes, o milípede-português é principalmente detritívoro, alimentando-se de matéria vegetal morta, tal como madeira podre e folhas mortas, de forma que sua introdução não é tanto assim uma catástrofe ecológica, apesar de ele poder ter alguns impactos negativos por competir com espécies nativas de milípedes.

Um milípede-português na Austrália. Foto do usuário corunastylis do iNaturalist.**

O principal problema causado pelo milípede-português na Austrália afeta especialmente humanos. Eles são atraídos por fontes de luz fraca, como as emitidas por casas à noite, e, como resultado, acabam invadindo residências, às vezes centenas deles ao mesmo tempo. Quando ameaçado, o milípede-português emite uma secreção amarela de cheiro forte que pode irritar os olhos e, em contato com as roupas, as deixa permanentemente manchadas. Além disso, o milípede-português às vezes pode se alimentar de algumas plantas cultivadas, especialmente frutas.

Em Portugal, as populações do milípede-português são controladas por predadores nativos, como o ouriço-europeu Erinaceus europaeus e o besouro Ocypus olens. Livre de seus inimigos naturais, o milípede se espalhou rapidamente pelo sudeste da Austrália. Contudo, cerca de 30 anos depois, sua população na Austrália começou a diminuir. Aparentemente, alguns nematódeos parasitas que infectam milípedes nativos se adaptaram para parasitar esta espécie invasora também, ajudando a conter seu tamanho populacional. Alguns outros predadores nativos australianos também foram observados se alimentando do milípede-português, incluindo a planária-azul, Caenoplana coerulea.

Além da Austrália, o milípede-português também foi introduzido em várias ilhas atlânticas, como as ilhas da Macaronésia, Bermuda e o Reino Unido, bem como na África do Sul. Contudo ele não parece ser um estorvo tão grande nesses lugares.

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Mais milípedes:

Sexta Selvagem: Milípede-Pernudíssimo (em 12 de fevereiro de 2016)

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Referências:

Baker GH (1985) Predators of Ommatoiulus moreletii (Lucas) (Diplopoda: Iulidae) in Portugal and Australia. Australian Journal of Entomology 24(4): 247–252. doi: 10.1111/j.1440-6055.1985.tb00237.x

Baker GH (1978) The post-embryonic development and life history of the millipede, Ommatoiulus moreletii (Diplopoda: Iulidae), introduced in south-eastern Australia. Journal of Zoology 186: 209–228. doi: 10.1111/j.1469-7998.1978.tb03366.x

Gregory SJ, Owen C, Jones G, Williams E (2018) Ommatoiulus moreleti (Lucas) and Cylindroiulus pyrenaicus (Brölemann) new to the UK (Diplopoda, Julida: Julidae) and a new host for Rickia laboulbenioides (Laboulsbeniales). Bulletin of the British Myriapod & Isopod Group 30: 48–60.

McKillup SC, Allen PG, Skewes MA (1988) The natural decline of an introduced species following its initial increase in abundance: an explanation for Ommatoiulus moreletii in Australia. Oecologia 77:339–342. doi: 10.1007/BF00378039

Terrace TE, Baker GH (1994) The blue land planarian, Caenoplana coeruleaMoseley (Tricladida: Geoplanidae), a predator of Ommatoiulus moreleti (Lucas) (Diplopoda: Julidae) in southern Australia. Australian Journal of Entomology 33(4): 371–372.

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Sexta Selvagem: Camarão-Semente-da-Cara

por Piter Kehoma Boll

É hora de falar sobre um ostrácodo, ou camarão-semente, de novo e, como de praxe, é um momento difícil devido à pouca informação facilmente acessível sobre qualquer espécie do grupo. Mas há, de fato, uma que é consideravelmente bem estudada. Sendo um dos ostrácodos mais comuns na América do Norte e na Eurásia, seu nome científico é Cypridopsis vidua, para o qual cunhei o nome comum “camarão-semente-da-cara”.

O camarão-semente-da-cara é um crustáceo de água doce com a aparência típica de um ostrácodo, se parecendo com um minúsculo bivalve medindo cerca de 0.5 mm de comprimento. Suas valvas possuem um padrão claro e escuro bem distinto.

Um camarão-semente-da-cara com a concha fechada. Créditos a Markus Lindholm, Anders Hobæk/Norsk institutt for vassforsking.*

Uma espécie relativamente móvel, o camarão-semente-da-cara vive no fundo de corpos d’água, sobre o sedimento, e é comum em áreas densamente vegetadas por caras (algas do gênero Chara). Esta associação com caras dá ao camarão-semente-da-cara tanto proteção contra predadores, em sua maioria peixes, quanto uma boa fonte de alimento.

O principal alimento do camarão-semente-da-cara são algas microscópicas que crescem no talo das caras. Enquanto forrageia, o camarão-semente-da-cara nada de um talo de cara para outro usando seu primeiro par de antenas e se agarra aos talos usando o segundo par de antenas e o primeiro par de pernas torácicas. Uma vez realocado, ele começa a raspar algas microscópicas com suas mandíbulas.

O corpo do camarão-semente-da-cara como visto quando uma das valvas (a esquerda neste caso) é removida. Créditos a Paulo Corgosinho.**

O camarão-semente-da-cara é mais uma dessas espécies em que machos não existem, nem mesmo em pequenas quantidades. Durante os meses quentes do verão, as fêmea produzem os chamados ovos súbitos, que se desenvolvem imediatamente em novas fêmeas. Contudo, quando o inverno se aproxima, elas produzem outro tipo de ovo, os chamados ovos de diapausa, que permanecem dormentes no substrato durante o inverno. Os animais adultos todos morrem durante esta estação e, quando a primavera chega, uma nova população surge dos ovos que eclodem. Como nem todos os ovos eclodem na primavera, alguns podem ficar no substrato por anos antes de eclodirem, o que geralmente aumenta a diversidade genética a cada ano, já que ela não depende apenas das filhas da geração passada.

Mas como surge diversidade genética se não há machos e, como resultado, as filhas são sempre clones das mães? Este mistério ainda não está totalmente resolvido. Recombinação genética durante a partenogênese, pela troca de alelos entre cromossomos, não parece ser muito comum. É possível que diferentes populações sejam geneticamente diferentes e que elas colonizem novos ambientes com frequência, se misturando entre si. Visto que machos são conhecidos em espécies proximamente relacionadas, ainda é possível que, algum dia, encontremos alguns machos do camarão-semente-da-cara escondidos por aí. Também é possível que, de alguma forma, os machos todos tenham se tornado extintos no passado recente, como na última glaciação, por exemplo. Se for o caso, só o tempo dirá qual é o destino do camarão-semente-da-cara.

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Mais Ostrácodos:

Sexta Selvagem: Camarão-Semente-Vênus-de-Dente-Afiado (em 22 de junho de 2018)

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Referências:

Cywinska A, Hebert PDN (2002) Origins of clonal diversity in the hypervariable asexual ostracode Cypridopsis vidua. Journal of Evolutionary Biology 15: 134–145. doi: 10.1046/j.1420-9101.2002.00362.x

Roca JR, Baltanas A, Uiblein F (1993) Adaptive responses in Cypridopsis vidua (Crustacea: Ostracoda) to food and shelter offered by a macrophyte (Chara fragilis). Hydrobiologia 262: 121–131.

Uiblein F, Roca JP, Danielpool DL (1994) Experimental observations on the behavior of the ostracode Cypridopsis vidua. Internationale Vereinigung für Theoretische und Angewandte Limnologie: Verhandlungen 25: 2418–2420.

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Em vez de produtos químicos tóxicos, use plantas ajudantes para se livrar de pragas agrícolas

por Piter Kehoma Boll

Encontrar maneiras eficientes de lidar com pragas agrícolas em plantações é um trabalho desafiador. Atualmente, como todos sabemos, a principal estratégia para o controle de tais pragas é o uso de pesticidas químicos. Contudo, esta abordagem apenas serve aos interesses daqueles buscando lucro e não o bem-estar, visto que todos sabemos que tais pesticidas aumentam o risco de diversos problemas de saúde naqueles que consomem os produtos. Mais que isso, pesticidas químicos não apenas matam a praga-alvo, mas muitas outras formas de vida, causando um efeito devastador nos ecossistemas.

A lagarta-listrada-do-repolho (Evergesis rimosalis) é uma praga comum em plantas do gênero Brassica (couve, repolho, mostarda) no leste dos Estados Unidos. Foto do usuário margardimaria do iNaturalist.*

Felizmente, tem havido um interesse crescente em encontrar maneiras alternativas e mais saudáveis de lidar com o problema. Uma maneira é a produção de organismos geneticamente modificados (GMOs) que são naturalmente resistentes às pragas. Há, no entanto, dois problemas principais com esta abordagem. A primeira é que a população em geral tem um medo irracional de GMOs, aparentemente acreditando que eles são mais perigosos que os pesticidas químicos, o que é completamente absurdo. O segundo problema com GMOs é que a tecnologia para criá-los é dominada pelas mesmas companhias que produzem a maioria dos pesticidas e, como todas as grandes companhias, apenas buscam o lucro e não dão a mínima para as pessoas ou o meio ambiente.

Uma terceira estratégia é o uso de inimigos naturais das pragas para controlá-las em fazendas orgânicas. Apesar de muitos inimigos naturais serem ótimos em seu trabalho, eles também podem causar impactos negativos por interferirem nos ecossistemas do entorno. A maioria das pragas de plantações não são nativas das áreas onde são pragas, isto é, elas são espécies invasoras e, de forma a controlá-las eficientemente, um predador de sua área nativa precisa ser introduzido também, e este predador pode acabar se tornando uma ameaça para outras espécie que escolhe como alimento.

Coleomegilla maculata é uma joaninha predadora comum no leste dos Estados Unidos. Elas são ótimas controlando pragas agrícolas localmente, mas não devem ser deliberadamente introduzidas em outros lugares. Foto de Riley Walsh.*

Felizmente, algumas boas estratégias foram recentemente desenolvidas. Uma delas inclui o uso de plantas adicionais nos campos que mudam a maneira como pragas se comportam sem serem uma ameaça para áreas do entorno. Estas plantas adicionais compreendem dois tipos: cultivares-armadilhas e plantas-insetários.

O trigo-sarraceno Fagopyrum esculentum vem sendo usado como planta-insetário. Foto do usuário jimkarlstrom do iNaturalist.*

Um cultivar-armadilha, como o nome sugere, é um cultivar adicional que não se intenciona explorar comercialmente, mas que serve como uma armadilha para as pragas. Em vez de atacarem o cultivar principal (o cultivar de interesse), as pragas são atraídas pelo cultivar-armadilha, reduzindo em densidade no cultivar de interesse. Este sistema é mais eficiente se o cultivar-armadilha for similar ao cultivar de interesse, tal como outra planta do mesmo gênero ou outra variedade da mesma espécie, porque ele precisa ser tão atrativo para a praga quanto o cultivar de interesse, ou talvez até mais atrativo.

Plantas-insetários, por outro lado, têm a intenção de atrair outros insetos para a plantação, especialmente insetos predadores que predam a praga agrícola. Plantas-insetários devem produzir flores em abundância, assim atraindo várias espécies de insetos, o que aumenta o interesse de predadores na área. Contudo, quando usadas sozinhas, as plantas-insetários só fornecem predadores para controlar pragas em plantas cultivadas que estejam perto das plantas-insetários e, como estas costumam ser plantadas ao redor da plantação, não protegem as plantas perto do centro da plantação.

Em um estudo recente, Shrestha et al. (veja referências) decidiram combinar cultivares-armadilhas e plantas-insetários junto com cultivares de interesse em uma estratégia que chamaram de “tríade botânica”. O cultivar de interesse foi repolho orgânico (Brassica oleracea var. capitata) plantado no leste dos Estados Unidos; os cultivares-armadilhas foram outros três cultivares do gênero Brassica: mostarda-marrom (Brassica juncea) e dois tipos de couve (Brassica oleracea var. acephala e Brassica oleracea var. italica); e as plantas-insetários foram o trigo-sarraceno (Fagopyrum esculentum) e a flor-de-mel (Lobularia maritima).

Couve (Brassica oleracea var. acephala). Foto de David Andreas Tønnessen.*

Como resultado, o número de herbívoros (isto é, pragas agrícolas) foi maior em cultivares-armadilhas do que no cultivar de interesse. Os cultivares-armadilhas foram, portanto, mais atrativos que o cultivar de interesse para as pragas. A presença de plantas-insetários aumentou o número de insetos predadores e parasitoides, como joaninhas e vespas parasitoides, nos cultivares-armadilhas em comparação com tratamentos sem plantas-insetários. O número de pragas parasitadas também aumentou na presença de plantas-insetários.

Organização da lavoura

No geral, o “trabalho em equipe” de cultivares-armadilhas e plantas-insetários reduziu a influência de pragas agrícolas em cultivares de interesse. Os cultivares-armadilhas atraíram as pragas para uma área próxima das plantas-insetários, permitindo que os predadores as alcançassem.

Maneiras eficientes de cultivar organicamente são possíveis. Só precisamos focar em ecossistemas saudáveis e não no dinheiro. Se trabalharmos juntos, podemos derrotar as “Seis grandes” corporações que dominam a produção de alimento no mundo. Elas são as verdadeiras pragas.

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Referência:

Shrestha B, Finke DL, Piñero JC (2019) The ‘Botanical Triad’: The Presence of Insectary Plants Enhances Natural Enemy Abundance on Trap Crop Plants in an Organic Cabbage Agro-Ecosystem. Insects 10(6): 181. doi: 10.3390/insects10060181

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Sexta Selvagem: Mariposa-Luna

por Piter Kehoma Boll

Faz muito tempo desde a última vez que apresentei um lepidóptero aqui, então hoje decidi voltar a este incrível grupo de insetos. A espécie que escolhi para hoje é bem popular, talvez a mariposa mais popular no mundo. Seu nome é Actias luna, comumente conhecida como mariposa-luna.

Mariposa-luna adulta nos Estados Unidos. Foto de Any Reago & Chrissy McClarren.*

A mariposa-luna é nativa do Canadá e dos Estados Unidos. É uma mariposa bem grande, com uma envergadura de cerca de 8 a 12 cm, apesar de alguns indivíduos poderem chegar a 18 cm. Suas asas, cobertas de escamas como de costume em lepidópteros, têm uma cor verde-clara. As asas anteriores possuem uma borda anterior marrom que se conecta a duas manchas ocelares (uma em cada asa) por um pedúnculo. As asas posteriores também possuem uma mancha ocelar cada, mas não são conectadas por um pedúnculo à borda. Nas asas posteriores há também uma longa cauda que é característica do gênero Actias e lembra um pouco a cauda similar (mas mais curta) de algumas borboletas, como as da família Papilionidae. Machos e fêmeas são muito parecidos e podem geralmente ser distinguidos pelo tamanho do abdome, que é muito mais grosso em fêmeas.

Em climas mais frios, como no Canadá, a mariposa-luna possui uma geração por ano, mas populações do sul, em locais onde o clima é mais quente, podem ter até três. As fêmeas põem ovos em plantas que servem de alimento à larva. Há várias espécies de árvores identificadas como alimento, incluindo bétulas, nogueiras, pecãs e caquizeiros. As larvas se alimentando de uma árvore nunca, ou muito raramente, chegam a um número que possa causar dano significativo à planta.

Larva de terceiro ínstar. Foto do usuário Kugamazog~commonswiki do Wikimedia.**

Os ovos são marrons e são depositados em aglomerados irregulares na parte inferior das folhas. Eles geralmente eclodem de uma a duas semanas depois de serem postos e originam larvas pequenas e verdes. As larvas são verdes em todos os estágios (ou ínstares) e passam por cinco deles durante um período de cerca de 7 semanas. O quinto e último ínstar então desce da árvore em que vive para atingir o solo. Lá, a larva começa a tecer um casulo de seda e, após concluí-lo, se transforma numa pupa. Em regiões mais quentes, a pupa leva cerca de duas semanas para se tornar um adulto, mas em regiões mais frias ela entra em diapausa durante o inverno, levando cerca de nove meses para completar o ciclo.

Uma larva de quinto ínstar construindo um casulo. Créditos a Virginia State Parks staff.*

Quando as fêmeas se tornam adultas, procuram por uma árvore adequada da espécie preferida (geralmente a mesma espécie em que nasceram) e emitem feromônios para atrair os machos. Os adultos não possuem peças bucais e, portanto, não comem, vivendo apenas o suficiente para acasalar e pôr ovos. As belas e lindas caudas das asas posteriores, mais que apenas lindas, parecem diminuir a habilidade de morcegos predadores detectarem a mariposa usando ecolocalização.

Pupa ao lado de um casulo vazio. Foto do usuário Kugamazog~commonswiki do Wikimedia.**

A mariposa-luna é um dos insetos mais populares da América do Norte. De fato, ela foi o primeiro inseto do continente a ser descrito, sendo chamada Phalaena plumata caudata por James Petiver em 1700. Quando Linnaeus começou a nomenclatura binomial de animais em 1758, ele a renomeou Phalaena luna como referência à deusa romana da Lua.

Belo espécime no Canadá. Foto de Alexis Tinker-Tsavalas.***

Apesar de não ser considerada uma espécie vulnerável no momento, a mariposa-luna sofre algumas ameaças causadas por interferência humana, como perda de habitat e dano causado por espécies invasoras. Felizmente, devido à sua popularidade, ela provavelmente terá apoio considerável do público para sua conservação quando a hora chegar.

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Referências:

Lindroth RL (1989) Chemical ecology of the luna moth: Effects of host plant on detoxification enzyme activity. Journal of Chemical Ecology 15(7): 2019–2029.

Millar JG, Haynes KF, Dossey AT, McElfresh JS, Allison JD (2016) Sex Attractant Pheromone of the Luna Moth, Actias luna (Linnaeus). Journal of Chemical Ecology 42(9): 869–876.

Wikipedia. Luna moth. Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/Luna_moth>. Acesso em 11 de julho de 2019.

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Sexta Selvagem: Vespa-da-Figueira-Lacerdinha

por Piter Kehoma Boll

Durante as últimas três semanas, apresentei uma figueira, a figueira-lacerdinha, uma lacerdinha que a parasita, a lacerdinha-da-figueira, e um ácaro que parasita a lacerdinha, o ácaro-da-lacerdinha-da-figueira. Todavia eu ainda não escrevi sobre uma das criaturas mais interessantes que interage com uma figueira: seu polinizador.

No caso da figueira-lacerdinha, seu polinizador é a vespa-de-figueira Eupristina verticillata, que decidi chamar de Vespa-da-Figueira-Lacerdinha. Como todas as vespas-de-figueira, esta espécie é muito pequena e completamente adaptada para viver com figos. Elas não podem sobreviver sem a espécie exata de figueira com que interagem, e a figueira em questão não pode sobreviver sem a espécie exata de vespa. Como isso funciona?

Vamos começar nossa história com uma fêmea adulta de vespa-da-figueira-lacerdinha. As fêmeas são pretas e muito pequenas, medindo cerca de 1 a 1,2 mm de comprimento somente. Esta fêmea está voando por aí procurando um figo jovem que servirá como seu ninho e sua sepultura.

Assim é uma fêmea de vespa-da-figueira-lacerdinha. Foto de Forest & Kim Starr.*

Um figo, caso você não saiba, não é um fruto verdadeiro no sentido botânico. Ele é na verdade um tipo especial de inflorescência chamado sicônio que é basicamente um saco preenchido de flores. As paredes internas de um figo contêm muitas flores masculinas e femininas minúsculas e a única maneira de chegar a elas é através de um pequeno furo na ponta do figo. E este furo só está aberto durante os estágios iniciais do desenvolvimento do figo.

Figos da figueira-lacerdinha no seu primeiro estágio de desenvolvimento. Você pode ver o furo marcado por uma “aréola” mais escura ao redor. Este é o lugar por onde uma vespa fêmea entra no figo. Créditos ao usuário do Wikimedia Vinayaraj.**

Quando a fêmea de vespa-da-figueira-lacerdinha está voando por aí, está procurando por um figo que esteja neste exato estágio de desenvolvimento. Uma vez que ela o encontre, ela se arrasta para dentro do figo através daquele furinho. Ela geralmente perde as asas enquanto faz isso porque a passagem é estreita demais. Ela até mesmo precisa usar suas mandíbulas especialmente adaptadas para a ajudarem a passar. Uma vez dentro do figo, ela procura pelas flores femininas que estão na base no figo, longe da entrada. As flores masculinas, localizadas logo na entrada, ainda não estão maduras. Contudo as vespas fêmeas chegam com pólen que pegaram em outro lugar (você vai aprender isso daqui a pouco). Quando ela chega nas flores femininas, introduz seu ovopositor (a longa estrutura no final do abdome que é usada para pôr os ovos) dentro da flor feminina e põe um ovo dentro do ovário da flor. Seu ovopositor precisa ter o tamanho exato para alcançar o ovário e pôr o ovo. Se ele é curto demais, ela não é capaz de completar sua tarefa. E enquanto ela se move de flor em flor para pôr os ovos, acaba as polinizando. Depois de terminar, a vespa morre ainda dentro do figo.

Os ovários que receberam um ovo começam a crescer e formar uma galha (um “tumor de planta”) por influência do inseto e servem como abrigo e alimento para as larvas que eclodem dos ovos. Uma larva cresce, empupa e se torna adulta dentro de uma só galha. Quando as vespas finalmente chegam ao estágio adulto, deixam a galha na qual nasceram. Isso acontece quando o figo atinge seu estágio maduro.

Os machos são os primeiros a emergir. Eles são ainda menores que as fêmeas e possuem uma cor entre o amarelo e o marrom-claro. Eles roem seu caminho através da galha e, uma vez fora dela (mas ainda dentro do figo), começam desesperadamente a procurar vespas fêmeas para inseminar. Eles fazem isso arrebentando outras galhas e, quando uma fêmea é encontrada presa dentro, a inseminam. Depois disso, os machos cavam um buraco através do figo para o lado de fora e morrem logo depois, nunca vivenciando o mundo externo.

Uma vespa-da-figueira-lacerdinha macho (à direita) comparado com uma fêmea. Foto de Forest & Kim Starr.*

As vespas fêmeas então deixam as galhas e se movem em direção ao buraco aberto pelo macho. Enquanto fazem isso, elas se movem por cima das flores masculinas, agora maduras, e ficam cobertas de pólen. Depois de deixar o figo, elas procuram outro figo que esteja no primeiro estágio de desenvolvimento, recomeçando o ciclo.

Quando uma fêmea deixa um figo maduro, ela precisa encontrar um figo imaturo logo em seguida porque estará morta em um par de dias. Em outras palavras, a única forma de isso funcionar é se houver figos no estágio certo durante o ano todo, e é isso que acontece. Diferente da maioria das espécies de plantas, que produzem flores em uma época específica do ano, figueiras estão sempre floridas. Bem, não exatamente. Uma figueira individual produz figos em um período específico do ano. Todos os figos daquela árvore amadurecem ao mesmo tempo, ou seja, uma figueira tem uma sincronia de maturação de flores intraindividual. Contudo, outras árvores da mesma espécie possuem momentos diferentes para produzir flores, ou seja, há uma assincronia de maturação de flores interindividual. Isso garante que a vespa sempre encontrará um figo que seja adequado para seu estágio de maturação quando há figueiras suficientes em volta e também garante que a figueira não será fertilizada pela próprio pólen.

Como eu mencionei ao apresentar a figueira-lacerdinha, esta árvore só consegue produzir frutos viáveis quando a vespa está presente, de forma que populações introduzidas fora da área nativa só se reproduzirão se as vespas também forem introduzidas. Contudo, a vespa será incapaz de sobreviver se não houver figueiras o bastante para fornecer figos o ano todo. É uma relação delicada entre um inseto minúsculo, frágil e de vida curta e uma árvore enorme, resistente e de vida longa. E eles precisam um do outro para sobreviver.

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Referências:

Cook J, Rasplus J-Y (2003) Mutualists with attitude: coevolving fig wasps and figs. TRENDS in Ecology and Evolution 18(5): 241–248.

Kjellberg F, Jousselin E, Hossaert-McKey M, Rasplus J-Y (2005) Biology, Ecology, and Evolution of Fig-pollinating Wasps (Chalcidoidea, Agaonidae). In Raman A, Schaefer CW, Withers TM (Eds.) Biology, ecology and evolution of gall-inducing arthropods. v.2. New Hampshire, Science, p.539-572.

McPherson JR (2005) A Recent Expansion of its Queensland Range by Eupristina verticillata, Waterston (Hymenoptera, Agaonidae, Agaoninae), the Pollinator of Ficus microcarpa l.f. (Moraceae). Proceedings of the Linnean Society of New South Wales: 126: 197–201.

Weiblen DG (2002) How to be a fig wasp. Annual Review of Entomology 47: 299–330.

Wiebes JT (1992) Agaonidae (Hymenoptera, Chalcidoidea) and Ficus(Moraceae): fig waps and their figs, VIII (Eupristina s.l.). Proceedings of the Koninklijke Nederlandse Akademie van Wetenschappen 95(1): 109–125.

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*Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição 3.0 Não Adaptada.

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Tospovirus e lacerdinhas: uma aliança que aterroriza as plantas

por Piter Kehoma Boll

Recentemente apresentei uma lacerdinha na seção Sexta Selvagem, no caso uma lacerdinha que infecta principalmente figueiras. Este grupo de insetos, que compreendem a ordem Thysanoptera, é pouco conhecido pelo público geral, mas é certamente conhecido por jardineiros e fazendeiros, já que eles podem causar sérios incômodos a muitos tipos de plantas.

Poderíamos imaginar as lacerdinhas como sendo um tipo de mosquito das plantas. Elas furam a superfície de plantas e sugam os sucos assim como mosquitos fazem com vertebrados. E todos sabemos que uma picada de mosquito pode levar a muito mais que uma pequena perda de sangue e uma irritação local na pele. Muitos parasitas usam mosquitos como vetores para viajar de hospedeiro para hospedeiro, incluindo protistas como Plasmodium falciparum, que causa malária, e muitos tipos de vírus, como os do gênero Flavivirus, que causam febre amarela, dengue e zika.

Algo similar acontece na associação de lacerdinhas com plantas. Um gênero especial de vírus, chamado Tospovirus, infecta espécies de plantas e usa lacerdinhas como um vetor. Dentro dos corpos das lacerdinhas, os vírus se reproduzem após infectar as célula epiteliais do intestino e, de lá, viajam pelo sangue até as glândulas salivares e, quando uma lacerdinha perfura uma planta, o vírus é injetado nela. O ciclo é basicamente o mesmo usado por Flavivirus em mosquitos e carrapatos para infectar vertebrados. Não é incrível como um vírus como o Tospovirus pode infectar tanto um animal quanto uma planta? Mas qual exatamente é a doença causada por estes vírus?

Folha de manjericão infectada pelo vírus-do-vira-cabeça-do-tomateiro. Foto de Scot Nelson.**

Um dos Tospovirus mais comuns é o chamado vírus-do-vira-cabeça-do-tomateiro (TSWV, sigla do nome em inglês, Tomato spotted wilt virus), que é considerado um dos vírus de plantas economicamente mais devastadores no mundo. Ele pode infectar muitos tipos de plantas, como tomate, tabaco, pimentão, amendoim e manjericão. Os sintomas variam de planta para planta, mas geralmente incluem crescimento deficiente, frutos mal desenvolvidos, frequentemente com manchas anelares na superfície, e necrose das folhas. Ele é transmitido para plantas por lacerdinhas do gênero Frankliniella, especialmente a lacerdinha-das-flores-ocidental Frankliniella occidentalis. Apesar de o vírus geralmente precisar de várias horas para ser capaz de reinfectar uma planta após infectar uma lacerdinha, em condições ideais o tempo pode ser tão curto quanto cinco minutos.

A lacerdinha-das-flores-ocidental Frankliniella occidentalis. Foto de Dave Kirkeby.*

Mas por que uma lacerdinha se alimentaria de uma planta obviamente doente, toda feia e cheia de manchas? Elas certamente prefeririam uma planta mais saudável, mas isso preveniria o vírus de se espalhar. Como resultado, o vírus desenvolveu várias estratégias para atrair as lacerdinhas. O TSWV é capaz de aumentar a quantidade de aminoácidos livres em plantas infectadas, e estes são nutrientes essenciais para a produção de ovos em lacerdinhas. Como consequência, plantas infectadas se tornam mais nutritivas e atraem mais lacerdinhas. Alimentando-se de plantas infectadas, as lacerdinhas certamente ficarão infectadas e ao mesmo tempo ingerirão mais nutrientes que lacerdinhas não infectadas. Assim, uma lacerdinha doente na verdade tem um fitness aumentado e geralmente põe mais ovos. As plantas certamente ficariam apavoradas se fossem capazes de ter emoções.

O vírus-da-necrose-de-nervura-da-soja (SVNV, do inglês soybean vein necrosis virus) é outro Tospovirus de importância econômica. Como seu nome sugere, ele ataca principalmente a soja, e seu principal vetor é a lacerdinha-da-soja Neohydatothrips variabilis. Lacerdinhas-da-soja infectadas produzem significativamente mais filhotes que as não infectadas, mas indivíduos altamente infectados produzem menos ovos viáveis. Como as lacerdinhas resolvem esse problema? É simples! Uma vez que estejam infectadas, elas param de se alimentar de plantas infectadas e preferem as não-infectadas, o que aumenta seu sucesso reprodutivo por evitar que se tornem altamente infectadas e ao mesmo tempo espalham o vírus adiante para plantas não infectadas. Um pesadelo para as plantas mais uma vez.

Lacerdinha-da-soja Hydatothrips variabilis. Foto de Even Dankowicz.***

Um estudo recente investigou a relação entre outro par Tospovirus-lacerdinha, desta vez do vírus-da-mancha-amarela-da-íris (IYSV, do inglês iris yellow spot virus) que comumente ataca o alho e a cebola, e seu principal vetor, a lacerdinha-da-cebola, Thrips tabaci. Lacerdinhas infectadas não apresentam uma fecundidade diária maior, mas tem uma longevidade maior, permitindo que ponham mais ovos simplesmente por viverem mais tempo.

Lesão do IYSV em folha de cebola. Extraído de https://vegetableguide.usu.edu/diseases/onion/iris-yellow-spot-virus

Mas o efeito do Tospovirus em lacerdinhas pode ir além. Por exemplo, apesar de plantas infectadas pelo TSWV liberarem aminoácidos que atraem e aumentam a fecundidade de lacerdinhas, a infecção ainda parece ter alguns efeitos deletérios no inseto. Machos infectados de Frankliniella occidentalis aumentam o consumo de fluidos vegetais e aumentam a transmissão do vírus. Fêmeas, por outro lado, parecem precisar de nutrientes que não podem ser encontrados em plantas. Como resultado, elas aumentam o consumo de ovos do ácaro-rajado Tetranychus urticae, com o qual frequentemente coexistem. Apesar de primariamente herbívoras como a maioria das lacerdinhas, a lacerdinha-das-flores-ocidental eventualmente se alimenta de ovos de ácaros, e estarem infectadas pelo TSWV faz as fêmeas se tornarem mais ávidas por comerem ovos. Isto certamente não é uma estratégia do próprio vírus como as outras, visto que a fêmea que se alimenta de ovos de ácaro não contribui para o sucesso reprodutivo do vírus. Todavia, este é um fenômeno interessante que nos mostra como as interações na teia trófica podem ser dinâmicas, mudando, por exemplo, devido ao efeito colateral não intencional de um vírus tentando sobreviver.

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Referências:

Keough S, Han J, Shuman T, Wise K, Nachappa P (2016) Effects of Soybean Vein Necrosis Virus on Life History and Host Preference of Its Vector, Neohydatothrips variabilis , and Evaluation of Vector Status of Frankliniella tritici and Frankliniella fusca. Journal of Economic Entomology 109(5): 1979–1987. doi: 10.1093/jee/tow145

Leach A, Fuchs M, Harding R, Nault BA (2019) Iris Yellow Spot Virus Prolongs the Adult Lifespan of Its Primary Vector, Onion Thrips (Thrips tabaci) (Thysanoptera: Thripidae). Journal of Insect Science 19(3): 8. doi: 10.1093/jisesa/iez041

Shrestha A, Srinivasan R, Riley DG, Culbreath AK (2012) Direct and indirect effects of a thrips‐transmitted Tospovirus on the preference and fitness of its vector, Frankliniella fusca. Entomologia Experimentalis et Applicata 145(3): 260–271. doi: 10.1111/eea.12011

Stafford-Banks CA, Yang LH, McMunn MS, Ullman DE (2014) Virus infection alters the predatory behavior of an omnivorous vector. Oikos 123(11): 1384–1390. doi: 10.1111/oik.01148

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