Arquivo do mês: novembro 2016

Sexta Selvagem: Verme-tapete-persa

por Piter Kehoma Boll

Um platelminto de novo, finalmente! Não uma planária  terrestre, mas um platelminto mesmo assim.

Se há um grupo de platelmintos que pode colocar planárias terrestres em segundo plano quando o assunto é beleza, esses são os policladidos. Vivendo no mar, especialmente em recifes de corais, policladidos são coloridos e crespos e podem ser confundidos com lesmas marinhas.

A espécie que estou apresentando aqui hoje é Pseudobiceros bedfordi, em inglês conhecida como Persian carpet flatworm, nome que adaptei como verme-tapete-persa. Medindo cerca de 8 cm, ele vive nos recifes de corais ao longo da Austrália, da Indonésia, das Filipinas e áreas adjacentes. Veja como ele é lindo:

A flatworm (Pseudobiceros bedfordi). Raging Horn, Osprey Reef, Coral Sea

O verme-tapete-persa com suas belas cores. Foto de Richard Ling.*

O padrão colorido desta e de muitas outras espécies de policladidos é  provavelmente um aviso sobre sua toxicidade, apesar de haver poucos estudos relacionados à toxicidade desses animais. Sendo predadores ativos, policladidos podem usar suas toxinas como uma forma de subjugar a presa também.

Mas a coisa mais interessante sobre o verme-tapete-persa é seu comportamento sexual. Como a maioria dos platelmintos, eles são hermafroditas, assim quando dois indivíduos se encontram e decidem fazer sexo, eles precisam escolher se farão o papel de macho ou de fêmea (ou ambos). Infelizmente, a maioria dos indivíduos prefere ser macho, então esses encontros geralmente terminam em lutas violentas nas quais ambos os animais atacam o parceiro com um pênis duplo, um comportamento conhecido como briga de pênis.

mating_pseudobiceros_bedfordi

Dois vermes-tapete-persa prestes a começar uma briga de pênis. Foto de Whitfield (2004), cortesia de Nico Michiels.**

Ao final, o vencedor jorra seu esperma no parceiro e vai embora. Mas a parte horrível ainda está por vir. O esperma parece ser capaz de queimar como ácido através do tecido da pele do receptor de forma a alcançar os tecidos internos e assim nadar até os ovos. Em algum casos extremos o volume de esperma pode ser grande o suficiente para arrebentar o receptor em pedaços! Se isso não é uma boa definição de sexo selvagem, não sei o que é.

Veja também: Conflito de Gênero: Quem é o homem na relação?

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Referências:

Whitfield, J. (2004). Everything You Always Wanted to Know about Sexes PLoS Biology, 2 (6) DOI: 10.1371/journal.pbio.0020183

Wikipedia. Pseudoceros bedfordi. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Pseudobiceros_bedfordi&gt;. Acesso em 24 de novembro de 2016.

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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição Não Comercial e Compartilhamento Igual 2.0 Genérica.

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Novas Espécies: 11 a 20 de novembro

por Piter Kehoma Boll

Aqui está uma lista de espécies descritas de 11 a 20 de novembro. Ela certamente não inclui todas as espécies descritas. A maior parte das informações vem dos jornais Mycokeys, Phytokeys, Zookeys, Phytotaxa, Zootaxa, International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology e Systematic and Applied Microbiology, além de revistas restritas a certos táxons.

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Liolaemus leftrarui é uma nova espécie de lagarto descrita nos últimos 10 dias.

Hacróbios

SARs

Plantas

Excavados

Fungos

Cnidários

Rotíferos

Anelídeos

Aracnídeos

Crustáceos

Insetos

Peixes de nadadeiras rajadas

Lissanfíbios

Répteis

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Sexta Selvagem: Cristalária-flutuante

por Piter Kehoma Boll

Se você possui um aquário em casa, talvez já conheça essa espécie, já que ela é muito popular entre aquariofilistas. Seu nome científico é Riccia fluitans, conhecida em inglês como floating crystalwort, nome que adaptei como cristalária-flutuante.

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Riccia fluitans crescendo em um substrato terrestre úmido. Foto de Christian Fischer.*

Como o nome sugere, a cristalária-flutuante é geralmente encontrada flutuando na água, mas também pode crescer em um substrato em áreas úmidas perto de corpos d’água ou, mais raramente, em substratos submersos.

A cristalária-flutuante é uma hepática, pertencendo a um grupo de plantas simples e primitivas sem tecidos especializados que geralmente crescem como um talo achatado. Quando flutua, a Riccia fluitans forma uma rede verde que é usada como abrigo por peixes jovens.

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A cristalária-flutuante flutuando num aquário. Foto de Piotr Kuczynski.*

Em pesquisa, a cristalária-flutuante é amplamente usada para estudar bioacumulação de elementos e propriedades da membrana celular, tal como transportes transmembrana.

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Referências:

Chojnacka, K. 2007. Biosorption and bioaccumulation of microelements by Riccia fluitans in single and multi-metal system. Bioresource Technology, 98(15): 2919-2925.

Johannes, E.; Felle, H. 1987. Implications for cytoplasmic pH, protonmotice force, and amino-acid transport across the plasmalemma of Riccia fluitansPlanta, 172(1): 53-59.

Wikipedia. Riccia fluitans. Disponível em: < https://en.wikipedia.org/wiki/Riccia_fluitans >. Acesso em 17 de novembro de 2016.

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Sexta Selvagem: Diatomácea-colar-de-roda

por Piter Kehoma Boll

A maioria de vocês deve saber o que são diatomáceas, algas microscópicas com carapaças de sílica que são muito abundantes nos oceanos do mundo e um dos principais produtores de oxigênio. Você pode ter visto imagens como esta abaixo, mostrando a diversidade de diatomáceas, mas você é  capaz de nomear uma espécie sequer?

diatoms

A bela, mas amplamente negligenciada por não-especialistas, diversidade de diatomáceas. Foto do usuário do Wikimedia Wipeter.*

Hoje decidi  trazer uma diatomácea à Sexta Selvagem e  me deixem contar: não foi nem um pouco fácil selecionar uma boa espécie com uma quantidade considerável de informações disponíveis e uma boa imagem. Mas ao final a vencedora do prêmio Primeira Diatomácea na Sexta Selvagem foi…

Thalassiosira rotula!

thalassiosira_rotula

Três indivíduos de Thalassiosira rotula conectados. Foto de micro*scope.**

Como com muitos microrganismos, esta espécie não possui nome comum e, como já é tradição aqui, eu decidi inventar um e escolhi o nome diatomácea-colar-de-roda. Diatomácea-colar parece ser um bom nome para espécies do gênero Thalassiosira, já que elas são formadas por vários indivíduos conectados entre si em um padrão que lembra um colar. Eu decidi chamar esta espécie particular de diatomácea-colar-de-roda por causa de seu epíteto específico, rotula, que significa rodinha em latim.

A diatomácea-colar-de-roda é uma espécie marinha encontrada no mundo todo perto da costa. É muito abundante e a espécie dominante em algumas áreas, de forma que possui uma grande importância ecológica. Pequenos crustáceos planctônicos, como copépodes, geralmente se alimentam da diatomácea-colar-de-roda e, como esses crustáceos são usados como alimento por animais muito maiores, a diatomácea-colar-de-roda é responsável por sustentar toda a teia alimentar.

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Referências:

Ianora, A., Poulet, S., Miralto, A., & Grottoli, R. (1996). The diatom Thalassiosira rotula affects reproductive success in the copepod Acartia clausi Marine Biology, 125 (2), 279-286 DOI: 10.1007/BF00346308

Krawiec, R. (1982). Autecology and clonal variability of the marine centric diatom Thalassiosira rotula (Bacillariophyceae) in response to light, temperature and salinity Marine Biology, 69 (1), 79-89 DOI: 10.1007/BF00396964

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Novas Espécies: 1 a 10 de novembro

por Piter Kehoma Boll

Aqui está uma lista de espécies descritas de 1 a 10 de novembro. Ela certamente não inclui todas as espécies descritas. A maior parte das informações vem dos jornais Mycokeys, Phytokeys, Zookeys, Phytotaxa, Zootaxa, International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology e Systematic and Applied Microbiology, além de revistas restritas a certos táxons.

A lesma-marinha Dendronotus robilliardi é uma nova espécie descrita nos últimos 10 dias.

A lesma-marinha Dendronotus robilliardi é uma nova espécie descrita nos últimos 10 dias.

Arqueias

Bactérias

SARs 

Plantas

Fungos

Esponjas

Cnidários

Entoproctos

Moluscos

Anelídeos

Loricíferos

Dragões-da-lama

Nematódeos

Aracnídeos

Crustáceos

Hexápodes

Equinodermos

Peixes cartilaginosos

Peixes de nadadeiras rajadas

Lissanfíbios

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Sexta Selvagem: Musgo-prateado

por Piter Kehoma Boll

Por ser encontrado na maior parte do mundo, você provavelmente já se deparou com esse camarada várias vezes na vida, mas não prestou atenção. Afinal, é só um musgo!

Cientificamente conhecido como Bryum argenteum e popularmente como musgo-prateado, essa plantinha vive em rachaduras de pedras, muros e calçadas e por isso também é conhecida como musgo-de-calçada. Ele geralmente forma pequenos amontoados compostos por muitas plantas crescendo apertadas umas contra as outras. As folhinhas de cada planta também são bem empacotadas, dando-lhe a aparência de um pedacinho de fio de lã. A ponta da planta geralmente tem um tom prateado que pode ser mais ou menos intenso, de onde o nome musgo-prateado.

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Essa é a aparência geral do musgo-prateado, formando montinhos e macio. Foto do usuário do flickr harum.koh*

Como todos os musgos, o tapete verde que forma a parte principal do musgo-prateado são os gametófitos, organismos haploides que são ou machos ou fêmeas. Os machos produzem o gameta masculino que nada em direção à planta fêmea e fertiliza o gameta dela. Como resultado, uma nova planta sem sexo cresce no topo da fêmea, o chamado esporófito. Você pode ver os esporófitos como pequenos pedúnculos com uma bolsa na ponta.

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Um cacho de esporófitos crescendo no topo dos gametófitos. Foto de Paul van de Velde.*

Extratos do musgo-prateado demonstraram possuir atividade microbiana, sendo eficientes contra várias espécies de bactérias e fungos, fazendo-o um candidato promissor para o desenvolvimento de novos medicamentos.

Vivendo dos polos ao equador, o musgo-prateado possui uma enorme habilidade de se adaptar a extremos de temperatura, umidade e altitude. Ele também apresenta uma tolerância consideravelmente alta de metais pesados, e isso é provavelmente a razão de ser tão comum na beira de estradas.

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Referências:

EOL – Encyclopedia of Life. Bryum argenteum. Available at < http://eol.org/pages/864280/overview >. Access on September 29, 2016.

Sabovljevic, A., Sokovic, M., Sabovljevic, M., & Grubisic, D. (2006). Antimicrobial activity of Bryum argenteum Fitoterapia, 77 (2), 144-145 DOI: 10.1016/j.fitote.2005.11.002

Shaw, A., & Albright, D. (1990). Potential for the Evolution of Heavy Metal Tolerance in Bryum argenteum, a Moss. II. Generalized Tolerances among Diverse Populations The Bryologist, 93 (2) DOI: 10.2307/3243622

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Novas Espécies: 21 a 31 de outubro

por Piter Kehoma Boll

Aqui está uma lista de espécies descritas de 21 a 31 de outubro. Ela certamente não inclui todas as espécies descritas. A maior parte das informações vem dos jornais Mycokeys, Phytokeys, Zookeys, Phytotaxa, Zootaxa, International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology e Systematic and Applied Microbiology, além de revistas restritas a certos táxons.

gelanoglanis_varii

A imagem mostra a cabeça diafanizada e corada de Gelanoglanis varii, um peixe-gato da bacia do Rio Tocantins recentemente descrito.

Arqueias

Bactérias

SARs

Plantas

Fungos

Esponjas

Cnidários

Platelmintos

Moluscos

Anelídeos

Nematódeos

Aracnídeos

Miriápodes

Crustáceos

Insetos

Peixes de nadadeiras rajadas

Lissanfíbios

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