Arquivo do mês: março 2018

Sexta Selvagem: Bactéria-da-Raiz-do-Amieiro

por Piter Kehoma Boll

O sucesso de muitas espécies de plantas é resultado de sua associação com diferentes organismos em seus sistemas de raízes, como fungos e bactérias. Entre as bactérias, as mais amplamente conhecidas por sua associação com raízes são os chamados rizóbios, bactérias que são associadas com a raiz de leguminosas (plantas da família Fabaceae).

Contudo este tipo de associação evoluiu independentemente muitas vezes em muitas linhagens de plantas e muitas linhagens de bactérias. Hoje apresentarei a vocês uma bactéria que não é proximamente relacionada aos rizóbios, mas age similarmente. Cientificamente conhecida como Frankia alni, ela não possui um nome comum, mas decidi chamá-la de bactéria-da-raiz-do-amieiro.

Como tanto o nome científico quanto o nome comum que acabei de inventar sugerem, a bactéria-da-raiz-do-amieiro é uma espécie associada com as raízes de árvores no gênero Alnus, comumente conhecidas como amieiro em português. Ela pertence ao filo Actinobacteria e à ordem Actinomycetales, tendo um crescimento filamentoso que produz uma estrutura similar ao micélio dos fungos.

As hifas que formam o micélio de Frankia alni. Foto do usuário Kkucho do Wikimedia.**

As bactérias não penetram as membranas celulares da planta hospedeira de cara, mas ficam dentro de estruturas que se desenvolvem a partir da parede celular da planta. De lá, elas estimulam a divisão celular e a produção de nódulos que crescem da raiz e para dentro das quais elas migram, entrando nas células dos nódulos.

Um nódulo causado por Frankia alni na raiz de um amieiro. Foto de Gerhard Schuster.**

Através de um processo bioquímico complexo que não vou apresentar aqui em detalhes, as bactérias-da-raiz-do-amieiro conseguem capturar nitrogênio da atmosfera e sintetizar aminoácidos a partir dele, parte dos quais é compartilhada com a planta hospedeira. Como resultado, amieiros que contêm nódulos de bactérias-da-raiz-do-amieiro conseguem crescer em solos pobres em nitrogênio e eventualmente enriquecem o solo, permitindo que outras plantas se estabeleçam.

Esporângios de Frankia alni. Foto do usuário Kkucho do Wikimedia.**

De forma a se dispersarem pelo ambiente e encontrarem novos hospedeiros, as bactérias-da-raiz-do-amieiro produzem esporos dentro de esporângios. Quando liberados, estes podem migrar, provavelmente pela água, até novos locais onde germinam e recomeçam o ciclo.

– – –

Curta nossa página no Facebook!

Siga-me (@piterkeo) no Twitter!

– – –

Referências:

Benson, D. R.; Silvester, W. B. (1993) Biology of Frankia strains, actinomycete symbionts of actinorhizal plantsMicrobiology and Molecular Biology Reviews 57(2): 293–319.

Wikipedia. Frankia alni. Available at: < https://en.wikipedia.org/wiki/Frankia_alni >. Access on March 13, 2018.

– – –

**Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 3.0 Não Adaptada.

1 comentário

Arquivado em Bactérias, Sexta Selvagem

Sexta Selvagem: Verme-listrado-de-verde

por Piter Kehoma Boll

Os parasitas são muito especiosos, e frequentemente eu sinto que não estou dando espaço suficiente para eles aqui, especialmente quando eu lhes trago um platelminto, que é provavelmente o grupo com o maior número de espécies parasitas. Então vamos falar de um deles hoje finalmente.

O pimeiro platelminto parasita que eu apresentarei a vocês é Leucochloridium paradoxum, o verme-listrado-de-verde. Ele é um membro do grupo Trematoda e, como todos os trematódeos, possui um ciclo de vida complexo.

Os adultos do verme-listrado-de-verde vivem no intestino de vários pássaros da América do Norte e da Europa. Os ovos que eles põem chegam ao ambiente através das fezes das aves e são eventualmente ingeridos por caracóis do gênero Succinea.

145

Um indivíduo adulto de Leucochloridium paradoxum (esquerda), um hospedeiro intermediário infectado, um caracol do gênero Succinea (centro) e os esporocistos ao longo dos õgrãos internos do caracol (direita). Imagens não em escala. Extraído de http://medbiol.ru/medbiol/dog/0011a975.htm

Adultos de Leucochloridium paradoxum são muito similares aos adultos de outras espécies do gênero Leucochloridium. A principal diferença é vista nos estágios larvais. Dentro do corpo do caracol, os ovos eclodem no primeiro estágio larval, o miracídio, que dentro do sistema digestivo do caracol se desenvolve no próximo estágio, o esporocisto.

O esporocisto tem a forma de um saco longo e inchado que é marcado de listras verdes (de onde o nome). Ele é preenchido de cercárias, que são o próximo estágio larval. O esporocisto então migra em direção aos tentáculos dos olhos do caracol, invadindo-os e tornando-os uma estrutura inchada, colorida e pulsante que se assemelha a uma lagarta. Nesse estágio da infecção, o pobre caracol provavelmente está cego e não consegue evitar a luz como normalmente faz. Como resultado, ele fica exposto a aves que o confundem com uma suculenta lagarta e o comem com avidez.

683px-succinea_mit_leucocholoridium

Um pobre caracol da espécie Succinea putris com um verme-listrado-de-verde em seu tentáculo ocular esquerdo. Só há um destino terrível para essa criatura. Foto de Thomas Hahmann.*

Quando o caracol é comido, o esporocisto arrebenta e várias cercárias são liberadas. No intestino da ave, elas se desenvolvem em adultos e recomeçam o pesadelo.

– – –

Curta nossa página no Facebook!

– – –

Referências:

Rząd, I.; Hofsoe, R.; Panicz, R.; Nowakowski, J. K. (2014) Morphological and molecular characterization of adult worms of Leucochloridium paradoxumCarus, 1835 and L. perturbatum Pojmańska, 1969 (Digenea: Leucochloridiidae) from the great tit, Parus major L., 1758 and similarity with the sporocyst stages. Journal of Helminthology 88(4): 506-510. DOI: 10.1017/S0022149X13000291

Wikipedia. Leucochloridium paradoxum. Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/Leucochloridium_paradoxum >. Accesso em 8 de março de 2018.

– – –

*Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 3.0 Não Adaptada.

2 Comentários

Arquivado em Parasitas, platelmintos, Sexta Selvagem, vermes, Zoologia