Lepidópteros estão entre os invertebrados mais amados pelo público, especialmente por causa de sua beleza, seja dos adultos ou das larvas, ou às vezes até mesmo da pupa! Mandarovás estão entre aqueles lepidópteros que frequentemente chamam a atenção das pessoas. Eles foram a família Sphingidae e os adultos possuem uma forma peculiar e facilmente reconhecível, mas as lagartas são mais notáveis.
O mandarová-elegante, Eupanacra elegantulus, é uma espécie encontrada no Sudeste da Ásia. Os adultos possuem uma cor amarronzada que não é muito diferente de um mandarová comum. As lagartas, por outro lado, são bem interessantes. Elas se alimentam de plantas da família Araceae, incluindo os gêneros Aglaonema, Alocasia, Dieffenbachia, Monstera e Syngonium, muitos dos quais são altamente tóxicos.
Elas vivem na parte de baixo de folhas das quais se alimentam e começam suas vidas como lagartas pequenas de um verde quase uniforme com um espinho reto perto da extremidade posterior. No seu último ínstar elas apresentam um padrão curioso. O espinho da extremidade posterior se torna curvo, e um pouco para trás dos três pares de pernas verdadeiras o dorso apresenta uma grande mancha ocelar de cada lado. Uma linha preta criando uma forma mais ou menos oval conecta essas manchas ocelares de cada lado, e a área que essa linha contorna mostra um padrão que se assemelha a escamas de répteis.
O corpo neste estágio pode ser tanto verde quanto marrom, e a lagarta meio que lembra uma cobra quando a cabeça está encolhida, ou um crocodilo quando está estendida.
Quando elas empupam, se prendem embaixo de uma folha rodeadas por um casulo bem fraco de seda e alguns detritos.
Apesar de ser uma espécie com um padrão bem interessante que imita cobras e crocodilos, o que chama a atenção de muitas pessoas, não há estudo nenhum focado nesta espécie. Atualmente a ciência ciadadã vem se tornando uma importante fonte de conhecimento, e eu penso que esta espécie se beneficiaria bastante de projetos que incluem a participação da comunidade.
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Das 334 Sextas Selvagens que este blog teve até agora, 50 foram insetos. Mesmo assim, várias ordens de insetos ainda não foram representadas. Uma delas é a ordem Dermaptera, cujos integrantes são comumente conhecidos como lacrainhas, tesourinhas ou raspelhos, mas isso muda hoje. E a espécie desta ordem que será apresentada aqui é Doru taeniatum, ou tesourinha-de-faixa como decidi chamá-la.
Encontrada através da América, pelo menos desde os Estados Unidos até a Argentina, a tesourinha-de-faixa ocorre em plantações humanas, especialmente milho. Ela possui a aparência típica da maioria das tesourinhas. O corpo é alongado, em sua maioria marrom, mais escuro, quase preto no abdome e avermelhado na cabeça. As antenas são um pouco longas e simples, as pernas são amareladas e as asas consistem de um par anterior endurecido, que lembra os élitros de besouros, e um par posterior maior e membranoso que fica dobrado sob o par anterior quando não é usado para voar. Os élitros são amarelos, com uma listra marrom correndo ao longo da margem, onde ambas as asas tocam, causando um padrão de listras amareladas separadas por uma listra marrom. E como todas as tesourinhas, a tesourinha-de-faixa possui um par de cercos em forma de pinça na ponta do abdome.
A tesourinha-de-faixa é um predador e se alimenta de outros insetos, especialmente ovos e larvas pequenas, apesar de ela também ter sido observada se alimentado de matéria vegetal como pólen e tecidos de folhas. Uma de suas presas é a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, uma mariposa que é uma praga importante de plantações, especialmente do milho. A tesourinha-de-faixa se alimenta tanto dos ovos quando das lagartas da S. frugiperda e é considerada um de seus predadores mais importantes, de forma que sua presença em plantações de milho sempre é um bom sinal, e às vezes, quando os números são grandes o bastante, nenhuma outra forma de controle de pragas é necessário.
Os predadores da tesourinha-de-faixa incluem outros artrópodes, como formigas e aranhas, bem como vertebrados como anuros e possivelmente aves. Seus mecanismos de defesa incluem tanto o uso dos cercos para beliscar o predador, principalmente os pequenos, bem como uma defesa química, que consiste num líquido que é borrifado por glândulas que se abrem no quarto segmento abdominal. Esse líquido borrifado é formado de quinonas com um odor forte que pode barrar o ataque de predadores como rãs e formigas.
Sendo ativa tanto de dia quanto à noite, a tesourinha-de-faixa passa a maior parte de sua vida sobre pés de milho. Elas usam o espaço entre as folhas e o caule da planta como abrigo, local de acasalamento e depósito de ovos. Os machos são maiores que as fêmeas, tendo élitros e cercos maiores também. Cada pé de milho possui geralmente só uma tesourinha ou um par formado de um macho e uma fêmea vivendo juntos. Quando um macho quer copular, ele se aproxima da fêmea movendo suas antenas até perto dela, então se move para seu lado e acaricia o abdome dela com os cercos dele. Se ela aceita copular, eles se posicionam em direções opostas e conectam os segmentos finais do abdome. O macho então expõe sua genitália e a insere na bolsa genital da fêmea. Os machos são territoriais e lutam contra outros machos que invadem o território, usando os cercos para se atacarem.
Depois de o par copular, a fêmea põe os ovos e toma um cuidado especial com eles. Ela frequentemente os limpa com a boca, prevenindo infecções de fungos e ácaros. Ela também os defende agressivamente usando seus cercos como arma para beliscar os intrusos. Depois que os ovos eclodem, a fêmea ainda toma conta das ninfas por alguns dias até que elas se dispersem pelo ambiente e comecem a limpar a plantação de pragas como seus pais faziam.
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Eisner, T., Rossini, C., & Eisner, M. (2000). Chemical defense of an earwig (Doru taeniatum). Chemoecology, 10(2), 81-87. https://doi.org/10.1007/s000490050011
Jones, R. W., Gilstrap, F. E., & Andrews, K. L. (1988). Biology and life tables for the predaceous earwig, Doru taeniatum [Derm.: Forficulidae]. Entomophaga, 33(1), 43-54. https://doi.org/10.1007/BF02372312
Gorgulhos são a maior família de besouros, que formam a maior ordem de insetos, que formam a maior classe de artrópodes e assim por diante… Assim, é hora de trazer mais um gorgulho aqui. Decidi falar de uma bela espécie brasileira que é consideravelmente popular, Entimus imperialis, conhecido gorgulho-diamante-brasileiro.
Ocorrendo na Mata Atlântica no sudeste do Brasil, ele é um gorgulho relativamente grande, medindo até 3 cm de comprimento. O corpo tem um fundo preto, mas é coberto de várias filas de depressões preenchidas com escamas iridescentes que criam um efeito de pontos verdes e dourados devido à presença de cristais fotônicos. Além disso, há algumas áreas iridescentes azul-esverdeadas nas pernas e formando listras no dorso.
Como as escamas estão arranjadas dentro de depressões côncavas, a aparência do gorgulho muda drasticamente dependendo da distância do observador. Quando visto de muito longe, ele se mescla perfeitamente com o fundo verde das folhas, o que é útil para torná-lo invisível a predadores. Por outro lado, quando visto de perto, o padrão de pontos iridescentes se torna bem conspícuo e se pensa que isso seja importante para que o gorgulho-diamante-brasileiro reconheça outros da mesma espécie.
Apesar do estudo extensivo sobre as propriedades ópticas e estruturais das escamas do gorgulho-diamante-brasileiro, pouco, ou talvez nada, parece ser conhecido sobre sua ecologia. Larvas de outras espécie de gorgulho proximamente relacionadas se alimentam de raízes de plantas, enquanto os adultos se alimentam de folhas da mesma planta, mas eu não consegui encontrar informação nenhuma sobre quais plantas são usadas como alimento pelo gorgulho-diamante-brasileiro.
De acordo com os registros no iNaturalist, os adultos parecem ser encontrados de novembro a julho, especialmente de novembro a maio. Assim, eles provavelmente morrem ao final do outono e passam o inverno como ovos ou talvez larvas.
E isso é tudo que posso dizer sobre essa linda mais pouco conhecida criatura.
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Morrone, J. J. (2002). The Neotropical weevil genus Entimus (Coleoptera: Curculionidae: Entiminae): Cladistics, biogeography, and modes of speciation. The Coleopterists Bulletin, 56(4), 501-513. https://doi.org/10.1649/0010-065X(2002)056[0501:TNWGEC]2.0.CO;2
Mouchet, S., Colomer, J. F., Vandenbem, C., Deparis, O., & Vigneron, J. P. (2013). Method for modeling additive color effect in photonic polycrystals with form anisotropic elements: the case of Entimus imperialis weevil. Optics Express, 21(11), 13228-13240. https://doi.org/10.1364/OE.21.013228
Wilts, B. D., Michielsen, K., Kuipers, J., De Raedt, H., & Stavenga, D. G. (2012). Brilliant camouflage: photonic crystals in the diamond weevil, Entimus imperialis. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 279(1738), 2524-2530. https://doi.org/10.1098/rspb.2011.2651
Moscas-escorpiões (Mecoptera) compreendem uma ordem de insetos importante mas não muito popular. A espécie mais conhecida e estudada é a mosca-escorpião-comum (Panorpa communis), que é nativa da Europa e do Norte da Ásia.
Adultos dessa espécie podem ser encontrados durante o fim da primavera e o verão, entre maio e setembro. Eles medem cerca de 3 de comprimento e possuem dois pares de asas transparentes com algumas manchas escuras. O corpo é amarelo e preto. Os machos possuem uma espécie de pinça na ponta da cauda, que é curvada para cima e usada para segurar a fêmea durante a cópula. Essa característica, encontrada apenas nos machos, é o que dá a essas criaturas o nome popular de mosca-escorpião.
Moscas-escorpiões-comuns são carnívoras e se alimentam de insetos, especialmente insetos mortos. Elas frequentemente roubam insetos de teias de aranha, mas também podem capturar insetos vivos na superfície das plantas em que vivem, especialmente pulgões, que geralmente estão ali tranquilos sugando seiva.
Quando as moscas-escorpiões copulam, o macho agarra o abdome da fêmea com sua pinça para que fiquem conectados. Uma só fêmea copula com vários machos e armazena seu esperma num órgão de armazenamento até a fertilização. A fêmea põe os ovos no solo, especialmente perto de corpos d’água para que permaneçam úmidos. Os ovos absorvem água do ambiente e aumentam de tamanho. As larvas se parecem com pequenas lagartas, tendo a mesma cabeça esclerotizada e as pernas falsas de lagartas comuns. Elas vivem no solo, alimentam-se de matéria animal e animais mortos e empupam no solo também.
A mosca-escorpião-comum compartilha as mesmas áreas com uma espécie proximamente relacionada, a mosca-escorpião-dos-prados (Panorpa vulgaris). As duas espécies são muito similares e possuem a mesma dieta, isto é, artrópodes mortos. A principal diferença é que a mosca-escorpião-comum prefere procurar alimento em áreas de sombra e a mosca-escorpião-dos-prados em áreas abertas e ensolaradas. Assim, elas meio que evitam confrontos e competição direta de recursos, apesar de eles serem mais comuns e facilmente localizados em áreas abertas, o que faz a mosca-escorpião-dos-prados ser um pouco mais bem-sucedida. Contudo, como a mosca-escorpião-comum explora áreas de que a mosca-escorpião-dos-prados não gosta, elas acabam em harmonia. No entanto, com o aumento do desmatamento e das temperaturas, os habitats adequados à mosca-escorpião-comum começam a diminuir, ameaçando sua persistência.
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Referências:
Sauer, K. P., Vermeulen, A., & Aumann, N. (2003). Temperature‐dependent competition hierarchy: a mechanism stabilizing the phenological strategy in the scorpionfly Panorpa communis L. Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research, 41(2), 109-117. https://doi.org/10.1046/j.1439-0469.2003.00206.x
A Cordillera del Cóndor, entre o Peru e o Equador, é uma região muito preciosa. Com uma biodiversidade impressionante, ela inclui o maior número de espécies de plantas por área na América do Sul. E escondido no meio dessa diversa flora podemos encontrar uma criatura peculiar e bela que é nossa espécie de hoje.
Chamada Peruphasma schultei, ela é um bicho-pau por vezes chamado de bicho-pau-beleza-negra. Medindo até 55 mm de comprimento, com os machos sendo menores que as fêmeas, esse bicho-pau é médio a grande comparado a outras espécies dessa ordem de insetos. Apesar de curto, ele é bem robusto, com as fêmeas sendo mais largas que os machos, de forma que eles não se parecem, de fato, com um galho. O corpo é em sua maioria preto, mas os olhos são amarelos e a boca e parte posterior das pequenas asas posteriores são vermelhas.
Como todos os bichos-paus, o bicho-pau-beleza-negra é herbívoro. Na natureza, ele parece se alimentar principalmente de aroeiras (plantas do gênero Schinus), mas muito pouco é conhecido sobre sua ecologia. Quando se sente ameaçado, ele abre as pequenas asas e espirra uma mistura irritante de glicose e perufasmal, uma substância exclusiva dessa espécie (e talvez outras próximas).
O bicho-pau-beleza-negra só ocorre numa área bem pequena de apenas 5 hectares e é considerado uma espécie criticamente ameaçada. Apesar disso, ele se tornou um animal de estimação popular pelo mundo por causa de sua cor incomum.
Em cativeiro, o bicho-pau-beleza-negra pode se alimentar de uma variedade de plantas. Populações cativas também apresentam alguns espécimes, especialmente machos, nos quais as asas são rosas em vez de vermelhas, um fenótipo causado por uma mutação num gene localizado nos cromossomos sexuais.
Apesar de a população natural do bicho-pau-beleza-negra na Cordillera del Cóndor estar criticamente ameaçada, já existe uma população significativa em cativeiro e você pode encontrá-los à venda em websites que vendem insetos de estimação. Isso é uma boa notícia para a espécie? Não sei dizer. Podemos nos sentir bem sabendo que a espécie está sobrevivendo como bicho de estimação quando suas populações selvagens estão prestes a se tornarem extintas? Qual é o ponto de preservar uma espécie sem deixá-la desempenhar seu papel no mundo?
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Referências:
Conle, O. V. (2005). Studies on neotropical Phasmatodea I: a remarkable new species of Peruphasma Conffile & Hennemann, 2002 from northern Peru (Phasmatodea: Pseudophasmatidae: Pseudophasmatinae). Zootaxa, 1068, 59-68.
McLeod, M. P., Dossey, A. T., & Ahmed, M. K. (2007). Application of attenuated total reflection infrared spectroscopy in the study of Peruphasma schultei defensive secretion. Spectroscopy, 21(3), 169-176.
van de Kamp, T. (2011). The “pink wing” morph of Peruphasma schultei Conffile & Hennemann, 2005 (Phasmatodea: Pseudophasmatidae). Entomologische Zeitschrift, 121(2), 55-58.
Enquanto a maioria das espécies apresentadas aqui possui pouquíssima informação disponível sobre sua ecologia, a espécie de hoje é um organismo muito bem pesquisado porque é uma ameaça a nível global. Seu nome científico atual é Solenopsis invicta e seu nome comum é formiga-lava-pés-vermelha.
A formiga-lava-pés-vermelha é nativa das regiões centrais da América do Sul, incluindo o oeste do Brasil, norte da Argentina, Paraguai, Bolívia e sudeste do Peru. As operárias variam de 2,5 a 6 mm de comprimento e possuem uma cor marrom-avermelhada ou amarelada, com um abdome mais escuro. Algumas colônias possuem duas castas de operárias, uma menor e uma maior, enquanto outras possuem só uma.
O acasalamento ocorre durante os meses quentes, quando o voo nupcial típico acontece. Os machos morrem logo após a cópula e as rainhas começam a construir seus ninhos, às vezes sozinhas, às vezes em grupos. Assim, as colônias podem ter só uma ou múltiplas rainhas, e no último caso elas podem brigar pela dominância. Os ninhos são construídos no chão e o solo que elas deslocam para escavar o ninho é frequentemente depositado em torno da entrada do ninho, formando um monte de pequenos grãos.
A formiga-lava-pés-vermelha é onívora e primariamente carniceira, alimentando-se de animais mortos e líquidos doces como néctar e melada, a substância doce secretada por alguns insetos. Como predadora, ela pode atacar outros insetos, especialmente dípteros e cupins, mas também outros artrópodes, como aranhas e opiliões, e mesmo lesmas ou pequenos vertebrados. Sementes também são eventualmente incluídas na sua dieta.
O comportamento dessas formigas e muito complexo e elas são muito resilientes, sendo capazes de se adaptar tanto à seca quanto a condições de cheias. Por exemplo, quando o solo fica coberto de água, elas se unem e formam uma bola ou jangada que flutua.
Devido a sua dieta ampla e habilidade de viver em vários tipos de habitats, a formiga-lava-pés-vermelha se adapta facilmente a novas áreas, e isso é exatamente o que aconteceu.
A formiga-lava-pés-vermelha chegou nos Estados Unidos através do porto de Mobile, Alabama, em navios cargueiros, nos anos 1930 ou 1940 e as estimativas são de que cerca de 9 a 20 rainhas não relacionadas foram introduzidas nessa época. Durante as décadas seguintes, as colônias começaram a se espalhar pelo sul dos Estados Unidos e norte do México, causando sérios danos ambientais e econômicos.
Estudos mostraram que muitos artrópodes nativos desaparecem de uma área quando as formigas-lava-pés-vermelhas chegam. Alguns deles se tornam presas das formigas e outros são provavelmente expulsos por competição ou porque as formigas removem suas fontes de alimento. Para humanos, os impactos econômicos são principalmente relacionados à sua presença em plantações, onde elas podem remover sementes em germinação. Se os ninhos são construídos perto ou embaixo de ruas, calçadas ou prédios, o solo que é deslocado pode eventualmente danificar a base da estrutura. Em áreas habitadas por humanos elas podem ser um incômodo por causa de seu comportamento agressivo, tornando as atividades ao ar livre difíceis.
Quando ameaçadas, as formigas-lava-pés reagem com um ataque agressivo em que várias operárias abordam a ameaça e a ferroam. Seu veneno é formado por uma mistura de muitos compostos e, em humanos, geralmente causa uma sensação de queimação seguida por urticária e formação de pústulas. Pessoas alérgicas podem sofrer reações alérgicas sérias e correr risco de vida.
Mais recentemente, a invasão da formiga-lava-pés-vermelha continuou e ela atingiu o Caribe, a China, Taiwan, a Austrália e a Nova Zelândia. Há também registros não confirmados de sua ocorrência na Índia e nas Filipinas.
Devido a essa combinação de fatores, a formiga-lava-pés-vermelha é mais uma espécie na lista das 100 piores espécies invasoras do mundo, da mesma forma que o caracol-gigante-africano e a planária-da-Nova-Guiné, que eu apresentei aqui algumas semanas atrás.
Tenho que dizer que acho engraçado que a presença dessas formigas em jardins seja um problema para atividades ao ar livre nos Estados Unidos. Como brasileiro, passei minha infância brincando num quintal cheio de formigas-lava-pés e perdi a conta de quantas vezes acidentalmente pisei num formigueiro e acabei com o pé coberto de picadas. Os bons e velhos tempos…
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Referências:
Ascunce, M. S., Yang, C. C., Oakey, J., Calcaterra, L., Wu, W. J., Shih, C. J., … & Shoemaker, D. (2011). Global invasion history of the fire ant Solenopsis invicta. Science, 331(6020), 1066-1068. https://science.sciencemag.org/content/331/6020/1066.full
Morrison, L. W., Porter, S. D., Daniels, E., & Korzukhin, M. D. (2004). Potential global range expansion of the invasive fire ant, Solenopsis invicta. Biological invasions, 6(2), 183-191. https://doi.org/10.1023/B:BINV.0000022135.96042.90
Insetos e seus parentes de seis patas são espécies predominantemente terrestres e de água doce, com muito poucas espécies no mar. Uma dessas poucas espécies é o colêmbolo Anurida maritima, conhecido como colêmbolo-da-praia (seashore springtail em inglês) porque aí é exatamente onde ele é encontrado.
O habitat preferido do colêmbolo-da-praia são costas rochosas e argilosas com frestas onde eles possam se esconder quando a maré sobe. Eles são encontrados especialmente na costa do Atlântico na Europa e na América do Norte, mas podem chegar a porções do sul da América do Sul e da África.
Durante a maré baixa, eles andam pela costa procurando por alimento, que é composto principalmente de animais mortos, especialmente gastrópodes. O colêmbolo-da-praia é, de fato, considerado um carniceiro muito importante nos locais em que ocorre. Cerca de uma hora antes de a maré ficar alta, ou quando o céu escurece porque tem chuva vindo, eles correm para as frestas que habitam e onde também constroem seus ninhos. Como o comportamento deles é governado pela maré e não pelo dia, eles possuem um ritmo circa-maré que dura cerca de 12,4 horas, o que os ajuda a ajustá-lo à medida que a maré vai mudando de um dia para o próximo enquanto a lua se desloca ao redor da Terra.
Eles preferem locais que os protejam da corrente da água, especialmente onde há raízes ou outras estruturas vegetativas que aumentem a proteção e a superfície. Centenas de colêmbolos podem se reunir num único ninho e se tornarem rodeados por uma grande bolha de ar quando a água do mar enche o espaço. E lá eles esperam até que a maré baixe de novo. Eles também usam esses ninhos para fazer suas mudas e pôr os ovos, formando um tipo de ninho coletivo.
Durante o inverno, todos eles morrem e deixam só seus ovos para trás. Na primavera os ovos eclodem e o litoral fica cheio deles de novo, todos ávidos para explorar e comer tantos caramujos mortos quanto possível.
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Referências:
Joosse, E. N. (1966). Some observations on the biology of Anurida maritima (Guérin),(Collembola). Zeitschrift für Morphologie und ökologie der Tiere, 57(3), 320-328. https://doi.org/10.1007/BF00407599
King, P., Pugh, P. J. A., Fordy, M. R., Love, N., & Wheeler, S. A. (1990). A comparison of some environmental adaptations of the littoral collembolans Anuridella marina (Willem) and Anurida maritima (Guérin). Journal of Natural History, 24(3), 673-688. https://doi.org/10.1080/00222939000770461
Todo biólogo sabe que aranhas não são insetos e precisa corrigir leigos a respeito disso o tempo todo. Mas de fato no passado as aranhas já foram consideradas insetos. Entenda aqui de onde o conceito de inseto veio e como ele foi mudando ao longo da história da taxonomia.
Hoje temos mais um vídeo sobre a pronúncia do latim científico! Aprenda a pronúncia adequada em português de todas as ordens de insetos, bem como de algumas subordens, superordens e mesmo algumas ordens já obsoletas, mas que ainda ouvimos/lemos por aí de vez em quando.
Se você vive em áreas tropicais e subtropicais, ou mesmo em áreas temperadas florestadas, pode ter tido a “oportunidade” de conhecer um borrachudo. Esses dípteros irritantes se esgueiram para perto de você e te picam sem que você perceba. Quando voam embora, deixam uma pequena marca vermelha arredondada na pele que vai coçar como o diabo pelas próximas horas ou mesmo dias. Mas isso é o de menos comparado a todo o dano que esses bichinhos irritantes podem causar.
E falando em dano, focaremos num borrachudo chamado Simulium damnosum. Ele não tem um nome popular específico, mas decidi chamá-lo de borrachudo-danoso.
O borrachudo-danoso é muito similar a outros borrachudos e é bem difícil diferenciá-los morfologicamente. Assim, o nome Simulium damnosum é frequentemente usado no sentido do que é identificado como o complexo Simulium damnosum, um grupo de espécies muito similares que você só pode diferenciar através de aspectos citológicos. Assim, este artigo focará mais no completo e não especificamente na espécie Simulium damnosum. Eles são, afinal, basicamente idênticos em todos os aspectos relevantes, incluindo sua ecologia.
Borrachudos-danosos adultos medem menos de 5 mm de comprimento e têm um corpo preto e gorduchinho. As fêmeas se alimentam tanto de néctar quanto de sangue de mamíferos, enquanto os machos consomem apenas néctar. O borrachudo-danoso é encontrado na África subsaariana, especialmente perto de rios. As fêmeas põem os ovos em água corrente bem oxigenada, que as larvas precisam para sobreviver. Eles são muito sensíveis à poluição e as larvas precisam de substratos imersos, como rochas ou vegetação, aos quais se ancoram usando pequenos ganchos. As fêmeas podem pôr até 250 ovos por dia e estes eclodem entre 36 e 48 horas após serem postos.
O ciclo de vida é muito rápido. As larvas se alimentam de partículas orgânicas e, em condições favoráveis, se transformam em pupas depois de cerca de 8 a 10 dias. As pupas permanecem protegidas por um casulo, presas ao substrato, e não se movem. Cerca de três dias mais tarde os adultos emergem da pupa e se movem para a superfície, alçando voo assim que deixam a água. Os adultos acasalam poucas horas depois de saírem da água, mas as fêmeas continuam vivas por vários dias, pondo centenas, milhares de ovos, e se alimentando de sangue de mamíferos todos os dias.
Como um inseto sugador de sangue, o borrachudo-danoso é vetor de uma das mais graves doenças tropicais, a oncocercose ou cegueira do rio. Essa doença é causada por um nematódeo que passa parte do seu ciclo de vida em mamíferos e parte nos borrachudos. A oncocercose causa vários sintomas debilitantes em humanos, especialmente problemas de pele e glaucoma, o que pode causar cegueira. Ela é, de fato, a segunda causa mais comum de cegueira no mundo, fazendo mais de 250 mil pessoas ficarem cegas todo ano.
Como os borrachudos-danosos causam uma doença tão séria em humanos e visto que vivem perto de cursos de água, tais áreas são quase inabitáveis em muitas regiões da África subsaariana. Contudo essas áreas são as mais propícias para agricultura, o que causa sérios problemas econômicos.
Até agora, a maioria das tentativas de reduzir o número de borrachudos se mostrou ineficiente. O método mais eficiente até o momento é o uso de inseticidas, mas, como você deve imaginar, isso não mata só o borrachudo, mas muitos outros insetos benéficos também e, assim que uma área fica livre de borrachudos, ela é colonizada de novo por populações de áreas vizinhas. Outra alternativa para reduzir a habilidade dos borrachudos de se reproduzirem é construindo represas que reduzem o fluxo da água em rios, mas isso, é claro, pode levar a desastres ecológicos ainda piores.
Enquanto os países afetados pela doença não possuem recursos para investir em pesquisas no assunto, os países ricos estão pouco se lixando para a população desses lugares, como todos sabemos. É um problema que num mundo capitalista dificilmente achará uma solução rápida e eficaz.
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Referências:
Jacob, B. G., Novak, R. J., Toe, L. D., Sanfo, M., Griffith, D. A., Lakwo, T. L., … & Unnasch, T. R. (2013). Validation of a remote sensing model to identify Simulium damnosum sl breeding sites in sub-Saharan Africa. PLoS Negl Trop Dis, 7(7), e2342.]
Le Berre, R. (1974). Simulium damnosum. In Control of Arthropods of Medical and Veterinary Importance (pp. 55-63). Springer, Boston, MA.
Post, R. J., Onyenwe, E., Somiari, S. A. E., Mafuyai, H. B., Crainey, J. L., & Ubachukwu, P. O. (2011). A guide to the Simulium damnosum complex (Diptera: Simuliidae) in Nigeria, with a cytotaxonomic key for the identification of the sibling species. Annals of Tropical Medicine & Parasitology, 105(4), 277-297.