Arquivo do mês: julho 2021

Sexta Selvagem: Água-Viva-Invertida-do-Indo-Pacífico

por Piter Kehoma Boll

Quando pensamos numa água-viva, a imaginamos pulsando na coluna d’água com seus tentáculos pendurados do lado de baixo. Contudo algumas águas-vivas não se comportam assim. Esse é o caso, por exemplo, daquelas no gênero Cassiopea, que inclui as chamadas águas-vivas-invertidas. A espécie mais estudada de Cassiopea é Cassiopea andromeda, que eu decidi chamar de água-viva-invertida-do-Indo-Pacífico.

Como você deve imaginar pelo nome que escolhi, a água-viva-invertida-do-Indo-Pacífico é nativa da região do Indo-Pacífico. A rezão pela qual essa e outras espécies do gênero são chamadas de águas-vivas-invertidas é porque elas são exatamente isso. Elas preferem não nadar por aí como uma água-viva típica, mas em vez disso ficar perto do fundo com os tentáculos e a boca virados para cima. Como resultado, elas podem acabar sendo confundidas com anêmonas-do-mar.

Uma água-viva-invertida-do-Indo-Pacífico adulta mede até 30 cm de diâmetro e tem um sino amarronzado e braços com tentáculos cuja forma varia de pontudos a achatados, arredondados ou estreitos e cuja cor varia de branco a marrom, vermelho, rosa, amarelo, verde ou azul. Esta espécie é carnívora, claro, como a maioria dos cnidários, e se alimenta de pequenos animais que captura e paralisa.

A impressionante variedade de cores e formas de tentáculos da água-viva-invertida-do-Indo-Pacífico. Extraído de Lampert (2016).

Águas-vivas-invertidas-do-Indo-Pacífico adultas são gonocorísticas, isto é, há espécimes machos e fêmeas. Os machos liberam o esperma na água, o qual entra no corpo das fêmeas e fertiliza os ovos. Os ovos são mantidos dentro do disco oral (a “boca”) da fêmea até que eles se desenvolvam em uma plânula de vida livre. A plânula eventualmente se assenta quando encontra um substrato adequado e se desenvolve num pólipo. Os pólipos podem produzir brotos da sua porção inferior que se destacam e acabam se assentando em outro lugar para se desenvolverem em novos pólipos. À medida que o pólipo cresce, ele se transforma numa jovem medusa de vida livre (éfira), a qual cresce para se tornar um adulto, recomeçando o ciclo. Um local ideal para os pólipos se assentarem são as raízes de mangues, então este é um dos ambientes mais comuns de se encontrar essa água-viva.

A água-viva-invertida-do-Indo-Pacífico também é conhecida por sua relação simbiótica com zooxantelas, algas unicelulares (dinoflagelados) do gênero Symbiodinium. É sua presença que dá à água-viva sua cor amarronzada. Tanto a medusa quanto os pólipos possuem algas em seu interior, mas eles não passam verticalmente da mãe para as plânulas. Em vez disso, os pólipos as capturam frescas do ambiente.

Espécimes num aquário. Foto de Raimond Spekking.*

As algas fornecem nutrientes para a água-viva e a água-viva, por sua vez, fornece proteção para as algas e garante que elas receberão luz do sol para a fotossíntese. Várias espécies diferentes de Symbiodinium são associadas aos pólipos, mas este número frequentemente se reduz a só uma espécie na medusa adulta. Como as águas rasas em que essas águas-vivas geralmente vivem costumam ser sujeitas a temperaturas consideravelmente altas, nem todas as zooxantelas podem sobreviver.

Apesar de a água-viva-invertida-do-Indo-Pacífico ser nativa do Indo-Pacífico, ela foi introduzida em outras partes do mundo também. Ela atingiu o Mediterrâneo provavelmente através do canal de Suez muitas décadas atrás e recentemente tem sido encontrada na costa atlântica das Américas também. Outra água-viva-invertida é nativa dessa região, a água-viva-invertida-do-Atlântico, Cassiopea xamachana, e as consequências das duas espécies se encontrando ainda é desconhecida. Esperemos que a invasora do Indo-Pacífico não leve a espécie atlântica à extinção.

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Referências:

Çevik, C., Erkol, I. L., & Toklu, B. (2006). A new record of an alien jellyfish from the Levantine coast of Turkey-Cassiopea andromeda (Forsskål, 1775)[Cnidaria: Scyphozoa: Rhizostomea]. Aquatic Invasions1(3), 196-197.

Hofmann, D. K., Neumann, R., & Henne, K. (1978). Strobilation, budding and initiation of scyphistoma morphogenesis in the rhizostome Cassiopea andromeda (Cnidaria: Scyphozoa). Marine Biology47(2), 161-176. https://doi.org/10.1007/BF00395637

Lampert, K. P. (2016). Cassiopea and its zooxanthellae. In The Cnidaria, past, present and future (pp. 415-423). Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-319-31305-4_26

Morandini, A. C., Stampar, S. N., Maronna, M. M., & Da Silveira, F. L. (2017). All non-indigenous species were introduced recently? The case study of Cassiopea (Cnidaria: Scyphozoa) in Brazilian waters. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom97(2), 321-328. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/162535/WOS000395463500012.pdf?sequence=1

Stampar, S. N., Gamero-Mora, E., Maronna, M. M., Fritscher, J. M., Oliveira, B. S., Sampaio, C. L., & Morandini, A. C. (2021). The puzzling occurrence of the upside-down jellyfish Cassiopea (Cnidaria: Scyphozoa) along the Brazilian coast: a result of several invasion events?. Zoologia (Curitiba)37https://doi.org/10.3897/zoologia.37.e50834

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*Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 4.0 Internacional.

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Arquivado em cnidários, Sexta Selvagem

Sexta Selvagem: Opalina-das-Rãs

por Piter Kehoma Boll

Grandes organismos multicelulares são mais que apenas um indivíduo e de fato servem como ecossistemas inteiros para organismos menores, frequentemente unicelulares. Entre os anuros europeus, incluindo a rã-comum-europeia apresentada aqui semana passada, um habitante frequente de seus cólons e cloacas é o camaradinha de hoje, Opalina ranarum, que eu decidi chamar de opalina-das-rãs.

A opalina-das-rãs é um protista heteroconto unicelular que mede até 400 µm de comprimento e 200 µm de largura, de forma que é grande o bastante para ser vista a olho nu. Dizem que seu aspecto a olho nu é de um pequeno grão opalescente, ou seja, com um aspecto multicor como uma opala, de onde o nome do gênero, mas não encontrei fotografias disso para poder confirmar. O corpo é coberto de fileiras oblíquas de flagelos que a fazem parecer um ciliado, apesar de não ser proximamente relacionada a esses protistas.

Apesar de ser um organismo unicelular, a opalina-das-rãs tem muitos núcleos na célula, os quais são frequentemente espaçados de forma regular pelo citoplasma. Eles são todos núcleos similares, sem formar micro- e macronúcleos como em ciliados e outros grupos.

Uma opalina-das-rãs viva. Ondas formadas pelos flagelos batendo são visíveis através da célula, bem como vários pontos que eu acho que possam ser os núcleos. Foto do usuário Djpmapleferryman do Wikimedia.*

A forma exata de interação que ocorre entre a opalina-das-rãs e seus hospedeiros anfíbios é desconhecida. Por um tempo ela foi considerada um parasita, mas parece que é na verdade mais como um comensal, alimentando-se de matéria orgânica presente na parte final do intestino das rãs. Assim, ela não representa uma ameaça ao hospedeiro, ao menos não sob condições normais.

Assista a algumas se movendo.

O ciclo reprodutivo da opalina-das-rãs é sincronizado com o de seu hospedeiro. Fora da temporada de acasalamento das rãs, as opalina-das-rãs adultas vivem na extremidade posterior do intestino das rãs no estágio chamado trofozoíto ou vegetativo, no qual crescem e às vezes se reproduzem assexuadamente por fissão. Quando a primavera chega, elas começam a apresentar divisão assexuada acelerada, aparentemente desencadeada pelos hormônios sexuais das rãs. Essa divisão acelerada produz muitos indivíduos pequenos com poucos núcleos que encistam. Os cistos são então lançados no ambiente com as fezes da rã.

Ciclo de vida da opalina-das-rãs. Extraído de Melhorn (2016).

Quando os ovos das rãs se desenvolvem em girinos, esses acabam engolindo alguns dos cistos liberados. Dentro dos girinos, o cisto volta a se transformar em um pequeno trofozoíto que continua a se dividir, ficando menor e menor e eventualmente originando indivíduos bem pequenos que agem como gametas. Dois destes gametas acabam se fundindo e formando um zigoto, o qual pode permanecer dentro do girino ou ser liberado no ambiente para ser engolido de novo por outro girino. Independente de qual caminho o zigoto toma, ele se desenvolverá em um novo trofozoíto adulto à medida que o girino cresce para se tornar uma rã adulta também, o que recomeça o ciclo.

Apesar de a opalina-das-rãs ser frequentemente representada como vivendo dentro da rã-comum-europeia, ela pode ser encontrada no intestino de outros anuros europeus também. Mas elas são mesmo todas da mesma espécie? Provavelmente precisamos de estudos genéticos das populações deste protista para encontrar a resposta.

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Referências:

Mehlhorn, H. (2016). Opalinata. In: Encyclopedia of Parasitology (Ed. H. Mehlhorn). Disponível em < https://link.springer.com/referenceworkentry/10.1007%2F978-3-662-43978-4_2221 >.

Noblet, G. P., & Yabsley, M. J. (2001). The good and the bad: symbiotic organisms from selected hosts. https://www.researchgate.net/publication/228990244_The_Good_and_the_Bad_Symbiotic_Organisms_From_Selected_Hosts

Olsen, O. W. (1974). Animal Parasites: Their Life Cycles and Ecology.

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Arquivado em protistas, Sexta Selvagem

Sexta Selvagem: Rã-Comum-Europeia

por Piter Kehoma Boll

Estamos perto de chegar a 300 Sextas Sevlagens e só um anfíbio foi apresentado até agora. Então acho que é hora de apresentar ao menos um anuro e, apesar de haver muitas espécies interessantes pelo mundo todo, decidi falar sobre a espécie mais comum, ou ao menos a mais conhecida, a rã-comum-europeia, Rana temporaria.

Encontrada pela Eurásia, esta espécie é, pode-se dizer, a espécie-tipo dos anfíbios anuros. Ela ainda tem o mesmo nome que Linnaeus lhe deu lá em 1758, quando todos os outros anuros também foram postos no gênero Rana.

Um espécime marrom no Reino Unido.

Como a maioria das rãs verdadeiras, a rã-comum-europeia é uma espécie semiaquática, com os adultos vivendo a vida toda na água ou em locais úmidos perto de corpos d’água, especialmente lagoas e banhados. Elas hibernam durante os meses mais frios do ano, mas algumas populações podem ficar consideravelmente ativas mesmo quando a água está em temperaturas bem perto do congelamento. Sua pele pode variar consideravelmente em cor, de um verde-oliva a vários tons de marrom e cinza e, em alguns casos raros, podem até ser pretas ou vermelhas. Elas têm a habilidade de ajustar a cor de acordo com o ambiente, assim aumentando sua capacidade de camuflagem. Há também manchas escuras irregulares distribuídas pelo corpo, especialmente nos membros e flancos.

Um espécime amarelado na Espanha numa mão humana para comparação de tamanho.

Espécimes adultos medem de 6 a 9 cm de comprimento, com as fêmeas sendo ligeiramente maiores que os machos. Elas se alimentam de uma variedade de invertebrados, incluindo artrópodes, gastrópode, vermes e quase qualquer coisa pequena que ande perto delas.

Na primavera tanto machos quanto fêmeas começam a produzir gametas e se preparam para a reprodução. Elas se aglomeram em lagoas em grandes grupos e os machos competem pelas fêmeas através de vocalizações bem altas e geralmente aqueles capazes de produzirem os chamados mais altos e longos são escolhidos pelas fêmeas. Quando uma fêmea se aproxima de um macho selecionado, ele tentará agarrá-la, subir nela e segurá-la com suas patas dianteiras, agarrando-a por sob suas próprias patas dianteiras. Uma área aumentada, inchada, no polegar do macho, chamada de calosidade nupcial, os ajuda a segurar a fêmea. Se outro macho tenta agarrá-la, ele o chuta pra longe. A fêmea eventualmente vai liberar os ovos e o macho derramará seu esperma sobre eles enquanto são liberados.

Um casal na Suíça procurando por um motelzinho molhado para fazer amor.

Os ovos formam amontoados gelatinosos que flutuam na água e nem a fêmea nem o macho tomam conta deles. Os ovos se desenvolvem e eclodem em velocidades diferentes, dependendo da temperatura. Quando mais alta a temperatura, mais rápido se desenvolvem, e o mesmo vale para os girinos quando eclodem e crescem. Girinos recém-eclodidos são principalmente herbívoros, alimentando-se de algas, mas se tornam completamente carnívoros com o tempo, comendo qualquer animal pequeno que encontram, incluindo outros girinos menores.

Muitos ovos flutuando numa lagoa na Itália.

A rã-comum-europeia geralmente não é explorada por humanos como recurso. Ela não é comestível, ou pelo menos não é frequentemente comida pelo que vi. Ela é, no entanto, uma espécie muito bem estudada devido à sua ocorrência comum em áreas habitadas por humanos através da Eurásia, de forma que há muita informação disponível sobre sua ecologia, diversidade genética, comportamento e muito mais. Suas populações são afetadas por atividades humanas, apesar disso, especialmente pela urbanização, que causa barreiras no habitat, e poluição. Todavia ela não é uma espécie ameaçada no momento.

Girinos na Itália.

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Referências:

Decout, S., Manel, S., Miaud, C., & Luque, S. (2012). Integrative approach for landscape-based graph connectivity analysis: a case study with the common frog (Rana temporaria) in human-dominated landscapes. Landscape ecology27(2), 267-279. https://doi.org/10.1007/s10980-011-9694-z

Wikipedia. Common frog. Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/Common_frog >. Acesso em 15 de julho de 2021.

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Arquivado em anfíbios, Sexta Selvagem

Sexta Selvagem: Solífugo-Ibérico

por Piter Kehoma Boll

Os aracnídeos mais populares são certamente as aranhas, os escorpiões e os ácaros, seguidos pelos opiliões. Outro interessante grupo que costuma ser ignorado é o dos solífugos, às vezes chamados de aranhas-camelos ou escorpiões-do-vento. Este grupo interessante é caracterizado por ocorrer somente em desertos e outras regiões secas do mundo.

A espécie que estou apresentando aqui ocorre em regiões secas da Península Ibérica. Com o nome científico de Gluvia dorsalis, este é o único solífugo que se sabe ocorrer nessa região, de forma que um nome comum como solífugo-ibérico parece apropriado. Suas áreas preferidas na península são campos abertos com vegetação baixa e muito pouca chuva durante o verão.

Cinco pares de pernas? Na verdade não. Foto do usuário pepcanto do iNaturalist.*

Como todos os solífugos, o solífugo-ibérico se parece com um software de escorpião que foi forçado a rodar num hardware de aranha. Eles se parecem com aranhas compridas com cinco pares de pernas em vez de quatro. O primeiro par, no entanto, não são pernas verdadeiras, mas pedipalpos. Eles são maiores que os três primeiros pares de pernas no solífugo-ibérico, mas possuem menos segmentos. Solífugos também têm quelíceras enormes comparados a outros aracnídeos e podem usá-las como poderosas pinças. As pernas e os pedipalpos frequentemente têm uma cor alaranjada a marrom-avermelhada, enquanto o abdome é marrom-escuro e o prossoma geralmente é avermelhado, apesar de a cor poder variar entre indivíduos e ao longo de diferentes estágios de vida.

Olhe pras poderosas quelíceras dessa fêmea. Foto de Óscar Mendez.*

Solífugos-ibéricos fêmeas são um pouco maiores que os machos, atingindo até 2 cm de comprimento, enquanto os machos atingem cerca de 1,7 cm. Ele só são ativos durante os meses quentes do ano, entre maio e novembro, especialmente quando o ambiente está bem seco. Eu aposto que eles odeiam a chuva quase tanto quanto eu odeio o Bolsonaro.

Machos são menores e têm abdomes mais estreitos que as fêmeas. Foto de Rui Cambraia.*

Sendo um predador, o solífugo-ibérico se alimenta de uma variedade de outros artrópodes, incluindo todo tipo de insetos, tatuzinhos-de-jardim e aracnídeos, até mesmo indivíduos menores da própria espécie. Eles são noturnos, sendo ativos do pôr do sol até perto da meia-noite. Durante o dia, os machos procuram abrigo sob pedras, em frestas ou no meio de resíduos, enquanto as fêmeas e os jovens podem cavar tocas. As fêmeas provavelmente o fazem para fornecer um local mais protegido para os ovos, enquanto os jovens o fazem para suportarem o inverno.

Uma fêmea se alimento do que parece ser um himenóptero. Foto do usuário faluke do iNaturalist.*

O acasalamento ocorre entre junho e agosto e os machos morrem logo depois, enquanto as fêmeas vivem mais um pouco até porem os ovos, geralmente num único grupo de mais de 100 ovos, apesar de eventualmente poderem pôr mais um grupo de ovos, mas muito menor. As larvas eclodem dos ovos cerca de 2 meses depois de postos e passam por alguns ínstares durante as semanas seguintes, se tornando juvenis antes que as temperaturas caiam e eles precisem cavar suas tocas para passar o inverno. No verão seguinte eles continuam seu desenvolvimento e passam por mais um inverno, quando já estão quase atingindo a idade adulta, o que acontece no começo de seu terceiro verão.

Uma fêmea entrando em sua toca. Foto do usuário pirataber do iNaturalist.**

Por causa de sua aparência de aranha e os movimentos rápidos, os solífugos frequentemente assustam as pessoas, mas eles são completamente inofensivos a humanos. Diferentemente de aranhas e escorpiões, eles não têm nenhum tipo de peçonha. O único dano que podem causar é mordendo humanos se forem molestados, mas, apesar de dolorosas, as mordidas não são de interesse médico.

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Referências:

González-Monliné, A. L., Melic, A., & Barrientos, J. A. (2008) Taxonomía, distribución geográfica e historia natural del endemismo ibérico Gluvia dorsalis (Latreille, 1817) (Solifugae: Daesiidae). Boletín Sociedad Entomológica Aragonesa, 42, 385–395.

Hrušková-Martišová, M., Pekár, S., & Cardoso, P. (2010). Natural history of the Iberian solifuge Gluvia dorsalis (Solifuges: Daesiidae). The Journal of Arachnology38(3), 466-474. https://doi.org/10.1636/Hi09-104.1

Wikipedia. Solifugae. Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Solifugae>. Acesso em 8 de julho de 2021.

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*Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição Não Comercial 4.0 Internacional

**Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição 4.0 Internacional.

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Arquivado em Aracnídeos, Sexta Selvagem

Sexta Selvagem: Arcela-Comum

por Piter Kehoma Boll

É hora de falarmos sobre uma ameba de novo e um grupo particular desses protistas que ainda não foi apresentado aqui é o das amebas testadas ou com concha. Visto que, com eu já disse muitas vezes antes, é muito difícil achar boas informações da maioria dos protistas, já que eles não são tão populares quanto muitos grupos de animais e plantas, eu terei que apresentar a mais “vulgar” das amebas testadas, Arcella vulgaris, a arcela-comum.

Como a maioria das amebas, a arcela-comum possui um corpo ameboide formado por uma célula irregular da qual pseudópodes se estendem para ajudar na locomoção e captura de presas. Na arcela-comum, no entanto, há uma bela e regular concha também. A concha é formada de quitina, como o exoesqueleto dos artrópodes e a parede celular de fungos.

Uma bela arcela-comum vista de cima. Créditos a Microworld.

Quando vista de cima, a concha possui uma forma circular e mede cerca de 100 µm (0,1 mm) de diâmetro. Quando vista de lado, podemos notar que ela é de fato uma estrutura em forma de domo, tendo uma concavidade em forma de funil no lado ventral. Na parte mais profunda da concavidade há uma abertura através da qual a ameba pode estender seus pseudópodes e se mover por aí. A concha também se curva para fora na borda da abertura, formando um tipo de colarinho. Pode-se dizer que a arcela-comum meio que lembra uma água-viva microscópica.

Vista lateral da arcela-comum com seu jeitão de água-viva. Foto de Thierry Arnet.*

A arcela-comum é uma espécie de água doce e pode ser encontrada em lagos, poças rasas e mesmo em solo encharcado. Sua dieta consiste de pequenos organismos unicelulares, incluindo bactérias, algas e fungos. Bactérias, no entanto, são o item mais importante de sua dieta, visto que experimentos em laboratório mostraram que seu desenvolvimento é comprometido quando ela é criada só com algas, só com fungos ou com uma combinação de algas e fungos. Por outro lado, ela se desenvolve normalmente numa dieta mista contendo bactérias ou se se alimenta só de bactérias.

Como a maioria das espécies do gênero Arcella, a arcela-comum tipicamente possui dois núcleos em sua célula. Sua reprodução ocorre por fissão binária e é bem interessante. Quando sente que precisa se dividir em duas, a arcela-comum retrai seus pseudópodes alongados para dentro da concha e cria um novo pseudópode, grosso e arredondado, que forma uma protuberância para fora da abertura da concha. Ela então começa a construir uma nova concha em torno dessa protuberância, usando-a como uma maneira de modelar a nova concha em seu formato adequado. Uma vez que a concha nova está pronta, os núcleos se dividem e dois deles migram para dentro da parte da ameba que está na nova concha. Depois disso, a célula se divide no ponto onde as duas conchas estão conectadas e acabamos com duas amebas, uma vivendo dentro da concha velha e uma dentro da concha nova. Às vezes a arcela-comum também pode construir uma nova concha e entrar inteira nela, sem se dividir em duas, deixando a concha antiga vazia. Esse fenômeno é chamado de exuviação.

Reprodução da arcela-comum. Extraído de Porfírio-Sousa & Lahr (2020).

Em algumas raras ocasiões, a ameba também pode construir uma concha nova e depois a joga fora vazia. Por que ela faria isso? Ninguém sabe.

Em experimentos de laboratório, quando a concha foi mecanicamente removida da arcela-comum, as amebas foram capazes de sobreviver sem a concha por algum tempo e eventualmente construir uma nova, apesar de essa concha regenerada ser sempre irregular e impactar o comportamento típico da ameba. O processo de regeneração da concha leva muito mais tempo que construir uma nova para a célula-filha. Enquanto produzir uma célula para reprodução leva só alguns minutos, não mais que meia hora, regenerar a concha para si mesma pode levar até três dias. Contudo quando essa ameba regenerada com uma concha malformada se divide, as células-filhas possuem conchas de formato normal.

A concha, então, não é só para a proteção da arcela-comum, mas modela seu corpo e seu comportamento como um todo.

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Referências:

Laybourn, G., & Whymant, L. (1980). The effect of diet and temperature on reproductive rate in Arcella vulgaris Ehrenberg (Sarcodina: Testacida). Oecologia45(2), 282-284. https://doi.org/10.1007/BF00346471

Pchelin, I. M. (2010). Testate amoeba Arcella vulgaris (Amoebozoa, Arcellidae) is able to survive without the shell and construct a new one. Protistology6(4), 251-257.

Porfírio-Sousa AL, Lahr DJG (2020) Current knowledge and research perspectives of the shell formation process in the genus Arcella (Arcellinida: Amoebozoa). Protistology 14(1): 3–14. https://doi.org/10.21685/1680-0826-2020-14-1-1

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*Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 3.0 Não Adaptada.

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Arquivado em protistas, Sexta Selvagem