Arquivo da categoria: Equinodermos

Sexta Selvagem: Bolacha-da-Praia-de-Cinco-Furos

por Piter Kehoma Boll

Se você já andou pelas praias do litoral atlântico dos Estados Unidos ao Brasil, provavelmente encontrou esqueletos da espécie de hoje jogados na areia. Seu nome científico é Mellita quinquiesperforata, mas você pode chamá-la de bolacha-da-praia-de-cinco-furos.

Um esqueleto de bolacha-da-praia-de-cinco-furos na areia. Foto de Maria Fernanda Molina G.**

A bolacha-da-praia-de-cinco-furos é um equinodermo da ordem Echinoidea e, portanto, proximamente relacionada aos ouriços-do-mar. Como todas as bolachas-da-praia, ela tem um corpo achatado com uma simetria bilateral secundária que evoluiu da simetria radial original dos equinodermos (que por sua vez já é um desenvolvimento secundário da simetria bilateral original dos animais bilaterais). Seu corpo é achatado, quase circular, mas mais largo que longo, atingindo até 12 cm de largura. Animais vivos têm uma textura de veludo formada pelos espinhos e pelos cobrindo o corpo. Uma marca em forma de estrela pode ser vista em seu dorso, a qual é formada por uma linha de poros pelos quais os pódios, responsáveis pela troca gasosa, saem. Um dos braços da estrela é direcionado para a frente do animal. A boca está localizada no centro do lado ventral e o ânus fica na extremidade posterior do corpo.

Bolachas-da-praia-de-cinco-furos são adoráveis. Foto de Andrea Caballero.*

O nome da bolacha-da-praia-de-cinco-furos vem do fato de seu corpo ter cinco perfurações alongadas, quatro das quais são contínuas com as quatro fileiras laterais de poros e o quinto é atrás, entre as duas fileiras posteriores. Estas aberturas ajudam a bolacha-da-praia a se mover mais facilmente através da areia ao permitir que esta passe através do corpo e também a ajudam a trazer comida até a boca. Ao mesmo tempo, as perfurações a mesclam melhor com a areia, reduzindo suas chances de serem carregados pelas ondas.

Lado ventral de um espécime vivo. Foto de Andrew J. Crawford.

A bolacha-da-praia-de-cinco-furos gosta de substratos de areia fina, não conseguindo se enterrar em cascalho ou areia grossa. Substratos lamacentos são aversivos a ela, mas ela pode se enterrar neles se não tiver escolha.

Lado dorsal. Foto do usuário  tropical_dragonfly do iNaturalist.*

A bolacha-da-praia-de-cinco-furos é um filtrador, filtrando pequenos organismos da areia, especialmente bactérias e eucariontes microscópicos, os quais remove de pequenas partículas argilosas que ingere. Seu comportamento alimentar e deslocamento geral através do sedimento ajudam a aumentar a oxigenação do substrato. Assim, sua presença tem grande impacto na comunidade de organismos capazes de viver na praia.

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Referências:

Alexander, D. E., & Ghiold, J. (1980). The functional significance of the lunules in the sand dollar, Mellita quinquiesperforata. The Biological Bulletin159(3), 561-570. https://doi.org/10.2307/1540822

Bell, B. M., & Frey, R. W. (1969). Observations on ecology and the feeding and burrowing mechanisms of Mellita quinquiesperforata (Leske). Journal of Paleontology, 553-560. https://www.jstor.org/stable/1302333

Findlay, R. H., & White, D. C. (1983). The effects of feeding by the sand dollar Mellita quinquiesperforata (Leske) on the benthic microbial community. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology72(1), 25-41. https://doi.org/10.1016/0022-0981(83)90017-5

Weihe, S. C., & Gray, I. E. (1968). Observations on the biology of the sand dollar Mellita quinquiesperforata (Leske). Journal of the Elisha Mitchell Scientific Society, 315-327. https://www.jstor.org/stable/24333312

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*Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 4.0 Internacional.

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Sexta Selvagem: Pepino-do-Mar-Abacaxi

por Piter Kehoma Boll

Frutos do mar são frequentemente considerados comida sofisticada pelo mundo todo e incluem todo tipo de organismos marinhos que humanos descobriram ser comestíveis. No sudeste da Ásia, uma destas iguarias é um pepino-do-mar, Thelenota ananas, conhecido como pepino-do-mar-abacaxi ou tripang.

Um belo pepino-do-mar-abacaxi nas Maldivas. Foto de Albert Kang.*

O pepino-do-mar-abacaxi é um equinodermo, um grupo que também inclui estrelas-do-mar, estrelas-serpentes, ouriços-do-mar, bolachas-da-praia e lírios-do-mar. Ele é encontrado em águas tropicais e subtropicais do Indo-Pacífico, ocorrendo do Mar Vermelho para o sul ao longo da costa leste da África e para o leste até a Polinésia, sendo comum em recifes de corais, apesar de ocorrer em baixas densidades.

Atingindo até 70 cm de comprimento e 6 kg, o pepino-do-mar-abacaxi é um pepino-do-mar relativamente grande. Ele possui uma cor laranja-avermelhada e preta, geralmente mais clara na parte interior, e muitas projeções em forma de estrela (papilas) pelo corpo todo.

Um detalhe mostrando as papilas estreladas. Foto de Nick Hobgood.**

Como a maioria dos pepinos-do-mar, o pepino-do-mar-abacaxi é um herbívoro. Como larva, ele provavelmente se alimenta de fitoplâncton e, como adulto, de algas maiores, incluindo algas verdes calcárias do gênero Halimeda. Ele cresce lentamente e tem uma longevidade alta. Em áreas mais subtropicais, se reproduz no verão, de janeiro a março, mas em águas mais tropicais é provável que se reproduza o ano inteiro. Ele também pode se reproduzir assexuadamente de maneira involuntária se for acidentalmente cortado ao meio, com as metades anterior e posterior formando um novo organismo em poucas semanas.

Nas Ilhas Marianas do Norte, com um braço humano para comparação. Foto de John Starmer.*

Como dito acima, o pepino-do-mar-abacaxi é comestível e é, de fato, um alimento muito saudável e promissor. Como todos os pepinos-do-mar, ele contém fucoidano, um tipo de polissacarídeo também encontrado em algas marrons e que possui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Ele também é rico em saponinas, como outros pepinos-do-mar e equinodermos, e estes revelaram ser bons agentes para reduzir os níveis de colesterol e também possuem propriedades anticâncer. Mais ainda, o pepino-do-mar-abacaxi contém outro composto, um glicosaminoglicano conhecido como sulfato de condroitina fucolisado (FuCS-1), que revelou ter a habilidade de bloquear o HIV de entrar nas células e possui, portanto, potencial para ser explorado para o desenvolvimento de novas drogas anti-HIV, especialmente contra algumas variantes resistentes.

Um spécime bem vermelho na Malásia. Foto de Tsu Soo Tan.*

Infelizmente, devido ao desenvolvimento lento, a taxa reprodutiva do pepino-do-mar-abacaxi é incapaz de compensar sua extração do oceano para consumo humano. Como resultado, as populações naturais reduziram drasticamente nas décadas passadas, com uma redução de 60% na Nova Caledônia e sendo quase extinto em algumas áreas. Como resultado, ele está listado como em perigo na lista vermelha da IUCN. Se não começarmos a respeitar esta espécie pela aplicação de políticas mais rígidas para sua captura, acabaremos perdendo esse camarada tão precioso do nosso planeta.

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References:

Conand C (1993) Reproductive biology of the holothurians from the major communities of the New Caledonian Lagoon. Marine Biology 116:439–450. https://doi.org/10.1007/BF00350061

Conand C, Gamboa R, Purcell S (2013) Thelenota ananasThe IUCN Red List of Threatened Species 2013: e.T180481A1636021. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2013-1.RLTS.T180481A1636021.en. Access on 30 July 2020.

Han Q, Li K, Dong X, Luo Y, Zhu B (2018) Function of Thelenota ananas saponin desulfated holothurin A in modulating cholesterol metabolism. Scientific Reports 8:9506. https://doi.org/10.1038/s41598-018-27932-x

Huang N, Wu M-Y, Zheng C-B, Zhu L, Zhao J-H, Zheng Y-T (2013) The depolymerized fucosylated chondroitin sulfate from sea cucumber potently inhibits HIV replication via interfering with virus entry. Carbohydrate Research 380:64–69. https://doi.org/10.1016/j.carres.2013.07.010

Reichenbach (1995) Potential for asexual propagation of several commercially important species of tropical sea cucumber (Echinodermata). Journal of the World Aquaculture Society 26(3):272–278. https://doi.org/10.1111/j.1749-7345.1995.tb00255.x

Wikipedia. Thelenota ananas. Available at < https://en.wikipedia.org/wiki/Thelenota_ananas >. Access on 30 July 2020.

Yu L, Xue C, Chang Y, Xu X, Ge L, Liu G, Wang Y (2014) Structure elucidation of fucoidan composed of a novel tetrafucose repeating unit from sea cucumber Thelenota ananas. Food Chemistry 146:113–119. https://doi.org/10.1016/j.foodchem.2013.09.033

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Sexta Selvagem: Estrela-do-mar-real

por Piter Kehoma Boll

Para celebrar a 50ª Sexta Selvagem, que foi postada hoje, decidi trazer uma Sexta Selvagem extra! Afinal, há formas de vida interessantes o suficiente para serem mostradas.

Como nunca apresentei um equinodermo, pensei que seria interessante começar o segundo grupo de 50 Sextas Selvagens com um deles. Assim eu escolhi a estrela-do-mar-real (Astropecten articulatus).

Belas cores, não acha? Foto de Mark Walz.*

Belas cores, não acha? Foto de Mark Walz.*

Encontrada em águas de 0 a 200 m de profundidade na costa do Atlântico Ocidental de New Jersey até o Uruguay, a estrela-do-mar-real pode atingir cerca de 20 cm de diêmtro e é facilmente identificada por sua cor. Dorsalmente ela possui uma série de papilas granulosas azul-escuras a roxas e é delineada por placas marginais laranjas com espinhos brancos supermarginais que dão uma aparência de pente, de onde o nome “Astropecten“, significando “pente-estrela”.

Como a maioria das estrelas-do-mar, a estrela-do-mar-real é um predador. Ela se alimenta principalmente de mexilhões de pequeno a médio porte e ingere a presa intacta, digerindo-a dentro da boca. Como ela é incapaz de digerir extraoralmente (fora da boca), ela não pode se limentar de nada que não possa ser ingerindo inteiro.

A maior parte de sua atividade ocorre no amanhecer e no anoitecer, o que pode estar inversamente relacionado à atividade de peixes predatórios, já que esses costumam ser mais ativos durante o dia.

Sendo uma estrela-do-mar consideravelmente comum, você pode facilmente achá-la enquanto caminha na praia, contato que a praia seja no lugar certo.

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Referências:

Beddingfield, S., & McClintock, J. (1993). Feeding behavior of the sea star Astropecten articulatus (Echinodermata: Asteroidea): an evaluation of energy-efficient foraging in a soft-bottom predator Marine Biology, 115 (4), 669-676 DOI: 10.1007/BF00349375

Wikipedia. Astropecten articulatus. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Astropecten_articulatus >. Aesso em 28 de julho de 2016.

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*Creative Commons License
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