Arquivo da categoria: mamíferos

Gateralidade: gatos podem ser destros ou canhotos?

por Piter Kehoma Boll

Em humanos, como você deve saber, geralmente há uma preferência por usar um lado do corpo para realizar uma tarefa, uma coisa chamada lateralidade. E nós temos uma forte tendência a sermos destros, com cerca de 90% dos humanos usando o lado direito para realizar a maioria das tarefas unilaterais. Vários estudos revelaram que muitos outros animais, ao menos entre vertebrados, também apresentam lateralidade.

Um estudo recente investigou a lateralidade no gato doméstico durante comportamentos espontâneos em contraste com experimentos mais comuns usando comportamentos forçados, como fazer o gato tentar alcançar comida. Eles procuraram por uma preferência lateral em gatos durante comportamentos de se deitar de lado, descer escadas ou subir em objetos.

400px-fiumi_28805948955029

Foto de Juan Eduardo de Cristófaro.*

Os resultados indicaram que cerca de um terço dos gatos é canhoto, um terço é destro e um terço é ambidestro enquanto sobem ou descem de um lugar, mas não existe preferência clara para se deitar do lado direito ou esquerdo. Assim, podemos ver que, diferentemente de humanos, não existe uma forte tendência de usar um lado do corpo em gatos, ao menos não quando olhamos para os gatos em geral.

Quando consideramos o sexo, no entanto, houve uma diference significativa: gatos machos tendem a ser canhotos, enquanto fêmeas são geralmente destras. Isso seria muito útil se gatos dançassem a valsa.

– – –

Curta nossa página no Facebook!

– – –

Referências:

McDowell, L. J.; Wells, D. L.; Hepper, P. G. (2018) Lateralization of spontaneous behaviours in the domestic cat, Felis silvestris. Animal Behavior135: 37–43. https://doi.org/10.1016/j.anbehav.2017.11.002

– – –

*Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição 2.0 Genérica.

Deixe um comentário

Arquivado em Comportamento, mamíferos

Briga biológica: Devemos trazer os mamutes de volta?

por Piter Kehoma Boll

Todo mundo conhece os incríveis grandes animais que são encontrados na África e no Sudeste da Ásia. Elefantes, girafas, rinocerontes, hipopótamos, cavalos, leões, tigres… essas grandes criaturas, a maioria mamíferos, são geralmente chamadas de megafauna, a “grande fauna”.

Mamíferos tão grandes quanto o elefante-africano-da-savana já vagaram pelas Américas. Foto do usuário do flickr nickmandel2006*.

Mamíferos tão grandes quanto o elefante-africano-da-savana já vagaram pelas Américas. Foto do usuário do flickr nickmandel2006*.

As Américas outrora também tinham uma impressionante megafauna, cheia de mastodontes, mamutes, preguiças gigantes, tatus gigantes e tigres-dentes-de-sabre. Hoje em dia ela é restrita a alguns ursos e onças. O que aconteceu com o resto deles? Bem, a maioria se extinguiu no final do Pleistoceno, cerca de 11 mil anos atrás.

A América do Sul já teve mamíferos tão grandes quanto o elefante-Africano-da-savana, tal como a preguça-gigante. Imagem de Dmitry Bogdanov** (dibdg.deviantart.com)

A América do Sul já teve mamíferos tão grandes quanto o elefante-Africano-da-savana, tal como a preguiça-gigante. Imagem de Dmitry Bogdanov** (dibdg.deviantart.com)

Visto que os humanos já habitavam as Américas nesta época, sempre se especulou se humanos tiveram algo a ver com a extinção. É verdade que hoje em dia centenas, milhares de espécies estão ameaçadas devido a atividades humanas, então é fácil pensar que humanos são a melhor explicação para a extinção, mas há 10 mil anos o número de humanos no planeta era milhares de vezes menor do que é hoje e nossa tecnologia ainda era muito primitiva, de forma que é improvável que pudéssemos caçar uma espécie até a extinção nesse período… se estivéssemos trabalhando sozinhos.

Não, não estou falando de humanos cooperando com aliens! Nosso camarada foi a famosa mudança climática. Períodos de extremo calor durante o pleistoceno parecem ter tido um forte impacto sobre populações de muitos grandes mamíferos e, com a ajuda de humanos caçando-os e se espalhando como uma espécie invasora, os pobres gigantes pereceram.

Le Mammouth por Paul Jamin

Le Mammouth por Paul Jamin

Isso aconteceu há mais de 10 mil anos, DEZ MIL ANOS.

Na África, elefantes e grandes carnívoros são bem conhecidos pela sua importância em estruturar comunidades, especialmente devido às interações tróficas que moldam outras populações. A megafauna extinta das Américas muito provavelmente tinha o mesmo impacto no ecossistema. Como resultado, sugestões para restaurar esta megafauna extinta foram propostas, seja por clonagem de espécies extintas ou, mais plausivelmente, pela introdução de espécies com um papel ecológico similar.

Svenning et al. (2015) revisaram o assunto e argumentaram em favor da reintroduão da megafauna para restaurar papéis ecológicos perdidos no Pleistoceno, uma ideia chamada de “renaturalização pleistocênica” ou “renaturalização trófica”, como eles preferem. Eles apresentam alguns mapas que mostram a distribuição atual de grandes mamíferos e sua distribuição histórica no Pleistoceno, a qual eles chamam de “natural”. Eles também propõem algumas espécies para serem introduzidas de forma a substituir aquelas extintas, incluindo substituições de espécies extintas há até 30 mil anos. Agora isso é uma boa ideia? Eles acham que é, e um dos exemplos usados é a reintrodução de lobos no Parque Nacional de Yellowstone. Mas lobos são estavam extintos ali por milênios, nem são uma espécie diferente que substituiria o papel de uma extinta.

Uma alcateia de lobos no Parque Nacional de Yellowstone.

Uma alcateia de lobos no Parque Nacional de Yellowstone.

Rubenstein & Rubenstein (2016) criticaram a ideia, argumentando que deveríamos focar em proteger os ecossistemas restantes e não em tentar restaurar aqueles que foram corrompidos milhares de anos atrás. Eles também argumentam que usar espécies similares pode ter consequências não intencionadas. Svenning et al. responderam que isso é apenas uma opinião e que um programa sistemático de pesquisa em renaturalização trófica deveria ser desenvolvido. A reintrodução de cavalos no Novo Mundo e suas consequências não-catastróficas são outro ponto usado para responder às críticas.

Então qual é sua opinião? Devemos trazer mamutes, mastodontes, preguiças gigantes e tigres-dentes-de-sabre de volta? Devemos introduzir elefantes e leões nas Américas para desempenharem o papel que mastodontes e esmilodontes tinham?

Minha opinião é não. A ideia pode parecer bela, mas penso que é na verdade fantástica, fabulosa demais e sensacionalista. Cavalos podem ter voltado às Américas sem trazer destruição, mas não podemos ter certeza de nada, mesmo com vários estudos teóricos e em pequena escala. Todos sabemos o quão frequentemente introduzir espécies dá errado, muito errado. Olhem para os pobres Austrália e Havaí, por exemplo. Além disso, esses mamíferos gigantes se etinguiram HÁ DEZ MIL ANOS. Certamente os ecossistemas se adaptaram à sua extinção. A vida sempre encontra um jeito. Há ameaças piores a esses ecossistemas que devem ser abordadas, tal como a destruição iminente para construir mais cidades e criar mais gado e plantações.

Superem. Os mamutes se foram. Vamos tentar salvar os elefantes em vez disso, mas sem trazê-los para o cerrado brasileiro. Eles não pertencem a esse lugar. Eles pertencem à savana africana.

– – –

Referências:

Rubenstein, D. R.; Rubenstein, D. I. From Pleistocene to trophic rewilding: A wolf in sheep’s clothing. PNAS, 113(1): E1. DOI: 10.1073/pnas.1521757113

Svenning, J-C.; Pedersen, P. B. M.; Donlan, C. J.; Ejrnæs, R.; Faurby, S.; Galetti, M.; Hansen, D. M.; Sandel, B.; Sandom, C. J.; Terborgh, J. W.; Vera, F. W. M. 2016. Science for a wilder Anthropocene: Synthesis and future directions for trophic rewilding research. PNAS, 113(4): 898-906. DOI: 10.1073/pnas.150255611

Svenning, J-C.; Pedersen, P. B. M.; Donlan, C. J.; Ejrnæs, R.; Faurby, S.; Galetti, M.; Hansen, D. M.; Sandel, B.; Sandom, C. J.; Terborgh, J. W.; Vera, F. W. M. 2016. Time to move on from ideological debates on rewilding. PNAS, 113(1): E2-E3. DOI: 10.1073/pnas.1521891113

Wade, L. 2016. Giant jaguars, colossal bears done in by deadly combo of humans and heat. Science News. DOI: 10.1126/science.aag0623

Wade, L. 2016. Humans spread through South America like an invasive species. Science News. DOI: 10.1126/science.aaf9881

– – –

*Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição 2.0 Genérica.

**Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 3.0 Não Adaptada.

Deixe um comentário

Arquivado em Conservação, Ecologia, Evolução, Extinção, mamíferos, Paleontologia, Zoologia

Sexta Selvagem: Tapiti

por Piter Kehoma Boll

O que seria melhor para celebrar a Páscoa que trazer um coelhinho para a Sexta Selvagem?

Conheça o tapiti (Sylvilagus brasiliensis), também conhecido como coelho-do-mato ou, no Brasil, muitas vezes simplesmente como lebre. É um coelho muito fofo encontrado do sudeste do México até o norte da Argentina e o sul do Brasil, sendo a espécie de coelho mais disseminada na América do Sul.

Fofo como qualquer coelho, o tapiti também é bem camuflado. Foto de Dick Culbert.

Fofo como qualquer coelho, o tapiti também é bem camuflado. Foto de Dick Culbert.

Medindo cerca de 30 cm de comprimento e tendo um dorso marrom com um salpicado preto, o tapiti pode se esconder facilmente em seu ambiente, o qual inclui florestas, cerrados e campos do nível do mar até 4.800 m de altitude. A aparência camuflada é provavelmente a razão de ser avistado tão raramente, mesmo sendo uma espécie muito comum. O fato de também ser ativo principalmente durante a alvorada e o ocaso também diminui as chances de ser visto propriamente. A IUCN o classifica como “Pouco Preocupante”.

Se você mora nas Américas Central e do Sul, tente prestar atenção enquanto caminha pelo mato. Talvez tenha a oportunidade de avistar algum.

– – –

Referências:

Wikipedia. Tapeti. Disponível em: < https://en.wikipedia.org/wiki/Tapeti >. Accesso em 24 de março de 2016.

EOL – Encyclopedia of Life. Sylvilagus brasiliensis. Disponível em: < http://eol.org/pages/118008/ >. Accesso em 24 de Março de 2016.

Deixe um comentário

Arquivado em mamíferos, Sexta Selvagem