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Sexta Selvagem: Polvo-azul-anelado-maior

por Piter Kehoma Boll

Águas tropicais estão sempre transbordando de diversidade, portanto é difícil ficar longe delas. A Sexta Selvagem de hoje traz mais uma criatura das águas oceânicas tropicais, mais precisamente das águas indo-pacíficas. Sendo encontrado do Sri Lanka até as Filipinas, o Japão e a Austrália, nosso camarada de hoje é chamado Hapalochlaena lunulata e popularmente conhecido como o polvo-azul-anelado-maior.

Esse polvo adorável é muito pequeno, medindo apenas 10 cm, incluindo os braços. Ele, no entanto, chama a atenção facilmente porque seu corpo de cor esbranquiçada a amarelo-escura é coberto por cerca de 60 anéis que apresentam uma bela cor azul-elétrica com um contorno preto. Como na maioria dos polvos, a cor pode mudar de acordo com as necessidades do animal de forma a torná-lo mais ou menos visível.

Um espécime do polvo-azul-anelado-maior na Indonésia. Foto de Jens Petersen.*

Esse adorável padrão de coloração, que pode parecer atraente para nós, humanos, é, no entanto, um sinal de advertência. O polvo-azul-anelado-maior é uma criatura peçonhenta e pode até mesmo matar um ser humano caso se sinta ameaçado. Como outros polvos, ele é um predador e se alimenta principalmente de crustáceos e bivalves e os imobiliza om uma toxina antes do consumo. Essa, porém, é uma toxina fraca. O perigo real está em seu comportamento defensivo.

Quando ameaçado, o polvo-azul-anelado-maior geralmente começa com uma sinalização de alerta onde dispara seus anéis em cores fortes. Se isso não for o suficiente para fazer a criatura que o ameaça recuar, ele ataca e morde seu molestador. A mordida geralmente é indolor, mas mortal. O veneno injetado não é nada mais nada menos que a infame tetrodotoxina, a mesma coisa que faz o baiacu um alimento perigoso. Como você talvez saiba, a tetrodotoxina é uma neurotoxina potente que mata entre alguns minutos a algumas horas ao bloquear o potencial de ação nas células, levando à paralisia e morte por asfixia. No polvo-azul-anelado-maior, a tetrodotoxina é produzida por bactérias que vivem em suas glândulas salivares.

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Um polvo-azul-anelado-maior nadando. Foto de Elias Levy.**

Um estudo analisando o comportamento sexual do polvo-azul-anelado-maior demonstrou que o acasalamento ocorre em encontros tanto de machos com fêmeas quanto de machos com machos. O ritual de acasalamento dos polvos consiste no macho inserindo o hectocótilo, um braço especializado para entregar esperma, no manto da fêmea. Em casais macho-macho, um dos machos sempre punha seu hectocótilo no manto do outro macho e não houve tentativas do macho receptivo de evitar o ato. A única diferença entre machos copulando com fêmeas ou com outros machos é que eles apenas entregavam o esperma para fêmeas e nunca para machos. O que podemos concluir disso? Teriam os polvos encontrado uma forma eficiente de serem bissexuais para se divertirem com outros machos e ainda manterem o esperma para dá-lo a fêmeas?

A diversidade da vida sempre nos fascina!

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Referências:

Cheng, M. W.; Caldwell, R. L. (2000) Sex identification and mating in the blue-ringed octopus, Hapalochlaena lunulataAnimal Behavior 60: 27-33. DOI: 10.1006/anbe.2000.1447

Mäthger, L. M.; Bell, G. R. R.; Kuzirian, A. M.; Allen, J. J.; Hanlon, R. T. (2012) How does the blue-ringed octopus (Hapalochlaena lunulata) flash its blue rings? Journal of Experimental Biology 215: 3752-3757. DOI: 10.1242/jeb.076869

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*Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 3.0 Não Adaptada.

**Creative Commons License
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Sexta Selvagem: Perseguidor-da-Morte

por Piter Kehoma Boll

O nome da espécie da Sexta Selvagem de hoje soa intimidador, e é por uma boa razão. Cientificamente conhecido como Leiurus quinquestriatus, o perseguidor-da-morte, que também é conhecido como escorpião-palestino ou escorpião-israelense, é considerado uma das mais peçonhentas espécies de escorpião do mundo.

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Um perseguidor-da-morte em Israel. Foto do usário מינוזיג do Wikimedia.*

O perseguidor-da-morte é encontrado em regiões áridas do Norte da África e do Oriente Médio. Há duas subespécies, L. quinquestriatus quinquestriatus, encontrada na África da Algéria e do Níger até a Somália e o Sudão, e L. q. hebraeus encontrada da Turquia até o Irã e o Iêmen. Eles são escorpiões relativamente grandes, medindo até 11 cm de comprimento.

A peçonha do perseguidor-da-morte demonstrou conter uma variedade de diferentes neurotoxinas, incluindo vários inibidores de canais de potássio e cloreto, o que afeta a transmissão de impulsos nervosos através do sistema nervoso. Apesar de bastante dolorosa, a picada de um único escorpião dificilmente mataria um humano adulto saudável, mas tratamento médico imediato com antipeçonha é sempre requerido para evitar qualquer consequência desagradável. Crianças, idosos ou adultos com problemas de coração ou alergias, no entanto, podem facilmente morrer.

Uma das toxinas, clorotoxina, que afeta canais de cloreto, apresentou o potencial de ser usada no tratamento de tumores cerebrais.

Apesar do perigo, o perseguidor-da-morte é frequentemente criado como animal de estimação. Por quê? Porque humanos…

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Referências:

Castle, N. A.; Strong, P. N. (1986) Identification of two toxins from scorpion (Leiurus quinquestriatus) venom which block distinct classes of calcium-activated potassium channel. FEBS Letters 209(1): 117–121. DOI: 10.1016/0014-5793(86)81095-X

EOL – Encyclopedia of Life. Leiurus quinquestriatus. Disponível em < http://eol.org/pages/10208954/overview >. Acesso em 7 de janeiro de 2018.

Garcia, M. L.; Garcia-Calvo, M.; Hidalgo, P.; Lee, A.; McKinnon, R. (1994) Purification and Characterization of Three Inhibitors of Voltage-Dependent K+ Channels from Leiurus quinquestriatus var. hebraeusVenom. Biochemistry 33(22): 6834–6839. DOI: 10.1021/bi00188a012

Gueron, M.; Ilia, R.; Shahak, E.; Sofer, S. (1992) Renin and aldosterone levels and hypertension following envenomation in humans by the yellow scorpion Leiurus quinquestriatusToxicon 30(7): 765–767. DOI: 10.1016/0041-0101(92)90010-3

Lyons, S. A.; O’Neal, J.; Sontheimer, H. (2002) Chlorotoxin, a scorpion-derived peptide, specifically binds to gliomas and tumors of neuroectodermal origin. GLIA 39(2): 162–173. DOI: 10.1002/glia.10083

Sofer, S.; Gueron, M. (1988) Respiratory failure in children following envenomation by the scorpion Leiurus quinquestriatus: Hemodynamic and neurological aspects. Toxicon 26(10): 931–939. DOI: 10.1016/0041-0101(88)90258-9

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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição e Compartilhamento Igual 4.0 Internacional.

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Sexta Selvagem: Cone-Tulipa

por Piter Kehoma Boll

O ano já quase terminou, mas se você tocasse a espécie da Sexta Selvagem de hoje, ele terminaria agora mesmo e sem um ano novo depois dele.

Vivendo ao longo das costas do Oceano Índico, incluindo África Oriental, Madagascar, Índia, Australia Ocidental e vários arquipélagos como as Mascarenas e as Filipinas, nosso camarada, Conus tulipa, é popularmente conhecido como o cone-tulipa. Apesar do belo nome, contudo, ele não é uma espécie legal de se ter por perto.

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Um espécie vivo de Conus tulipa na ilha Reunião, nas Mascarenas. Foto de Philippe Bourjon.*

O cone-tulipa é uma espécie do gênero Conus, formado por caramujos marinhos predadores que se alimentam de uma variedade de animais, tais como peixes, vermes e outros moluscos. Eles capturam a presa ferroando-a com um arpão venenoso que é feito de um dente modificado de sua rádula (língua). Os arpões são armazenados em um saco e disparados em presas próximas. Como muitas espécies se alimentam de presas rápidas, como peixes, o veneno é muito poderoso, podendo matar o alvo em poucos segundos. Em algumas espécies, incluindo o cone-tulipa, esse veneno poderoso é forte o bastante para matar um ser humano adulto.

Como acontece com outras espécies peçonhentas, no entanto, nem tudo é ruim. Várias toxinas diferentes e outros componentes foram recentemente isolados do veneno do cone-tulipa, muitos dos quais podem eventualmente ser usados para desenvolver novos medicamentos.

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Referências:

Alonso, D.; Khalil, Z.; Satkunanthan, N.; Livett, B. G. (2003) Drugs From the Sea: Conotoxins as Drug Leads for Neuropathic Pain and Other Neurological Conditions. Mini Reviews in Medicinal Chemistry3: 785–787.

Dutertre, S.; Croker, D.; Daly, N. L., Anderson, Å,.; Muttenhaler, M.; Lumsden, N. G.; Craik, D. J.; Alewood, P. F.; Guillon, G.; Lewis, R. J. (2008) Conopressin-T from Conus tulipa reveals an anatagonist switch in vasopressin-like peptides. Journal of Biological Chemistry283, 7100–7108.

Hill, J. M.; Alewood, P. F.; Craik, D. J. (2000) Conotoxin TVIIA, a novel peptide from the venom of Conus tulipa. The FEBS Journal, 267 (15): 4649–4657.

Wikipedia. Conus tulipa. Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/Conus_tulipa >. Acesso em 28 de dezembro de 2017.

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