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Sexta Selvagem: Líquen-Preto-Pigmeu

por Piter Kehoma Boll

Todos conhecemos líquens, aqueles fungos cascudos que crescem associados com algas em árvores ou rochas, mas líquens formam um grupo tão diverso que podem ser encontrados em todo tipo de ambiente, incluindo o mar, por exemplo.

A espécie de hoje, Lichina pygmaea, que eu decidi chamar de líquen-preto-pigmeu, é uma dessas espécies marinhas. Encontrado na zona entre-marés de costas rochosas na Europa, o líquen-preto-pigmeu forma tufos pretos conspícuos que às vezes crescem para formar tapetes pretos mais extensos nas rochas.

Líquen-preto-pigmeu crescendo entre cracas e lutando por espaço com algas marrons e verdes. Foto do usuário zaca do iNaturalist.**

Se você olhar de perto, notará que o corpo do líquen-preto-pigmeu consiste de um talo meio achatado e ramificado com pontas arredondadas, sendo mais gelatinoso que seus correspondentes terrestres. As pontas frequentemente possuem corpos de frutificação, os quais formam pequenas estruturas arredondadas.

Atingindo cerca de 1 cm de altura no máximo, o líquen-preto-pigmeu se parece de certa forma com uma pequena alga vermelha e é, de fato, frequentemente confundido com algumas algas vermelhas similares, como Catenella caespitosa, mas esta alga é roxo-escura em vez de preta.

Catenella caespitosa, uma alga vermelha que pode ser confundida com o líquen-preto-pigmeu a primeira vista e vice versa. Foto de Pierre Corbrion.*

O líquen-preto-pigmeu é um dos chamados cianolíquens, líquens que possuem cianobactérias como algas associadas em vez de algas verdes como a maioria dos líquens terrestres. De fato ele não é proximamente relacionado aos líquens mais familiares, pertencendo a uma linhagem diferente de fungos que liquenizou independentemente. Sua fisiologia, no entanto, é surpreendentemente similar a dos líquens terrestres, o que é provavelmente causado por ele passar metade de sua vida fora d’água durante a maré baixa, ficando exposto a condições adversas como a maioria das espécie entre-marés sésseis.

Um grande tapete do líquen-preto-pigmeu. Foto de Pierre Corbrion.*

Estudos em laboratório isolaram compostos importantes do líquen-preto-pigmeu, incluindo pigmanilina, um antioxidante, e pigmeína, um agente antitumor, o que pode levar ao desenvolvimento de novas drogas anticâncer. Contudo o líquen-preto-pigmeu parece ter um crescimento muito lento como a maioria dos líquens e possui dificuldades na competição por espaço com outras espécies entre-marés, de forma que sua exploração precisa ser conduzida com cautela.

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Referências:

Mahajan N, Chadda R, Calabro K, Solanki H, O’Connell E, Murphy PV, Thomas OP (2017) Isolation and synthesis of pygmanilines, phenylurea derivatives from the Northeastern Atlantic lichen Lichina pygmaea. Tetrahedron Letters58(12), 1237-1239. https://doi.org/10.1016/j.tetlet.2017.02.037

Prieto A, Leal JA, Bernabé M, Hawksworth DL (2008) A polysaccharide from Lichina pygmaea and L. confinis supports the recognition of Lichinomycetes. mycological research112(3), 381-388. https://doi.org/10.1016/j.mycres.2007.10.013

Raven JA, Johnston AM, Handley LL, McInrot SG (1990) Transport and assimilation of inorganic carbon by Lichina pygmaea under emersed and submersed conditions. New Phytologist114(3), 407-417. https://doi.org/10.1111/j.1469-8137.1990.tb00408.x

Roullier C, Chollet-Krugler M, Van de Weghe P, Lohézic-Le Devehat F, Boustie J (2010) A novel aryl-hydrazide from the marine lichen Lichina pygmaea: Isolation, synthesis of derivatives, and cytotoxicity assays. Bioorganic & medicinal chemistry letters20(15), 4582-4586. https://doi.org/10.1016/j.bmcl.2010.06.013

Tyler-Walters H (2002) Lichina pygmaea Black lichen. In Tyler-Walters H. and Hiscock K. (eds) Marine Life Information Network: Biology and Sensitivity Key Information Reviews, [on-line]. Plymouth: Marine Biological Association of the United Kingdom. [citado 12-11-2020]. Disponível em: https://www.marlin.ac.uk/species/detail/1803

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*Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição Não Comercial e Compartilhamento Igual 4.0 Internacional.

**Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição Não Comercial 4.0 Internacional

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Sexta Selvagem: Líquen-solar-elegante

por Piter Kehoma Boll

Bipolar e alpino em distribuição, ocorrendo tanto em regiões árticas e antárticas quanto nos Alpes e áreas temperadas próximas, o líquen-solar-elegante (Xanthoria elegans) é uma bela e interessante criatura. Como todos os líquens, ele é formado por um fungo associado a uma alga.

Um líquen-solar-elegante crescendo sobre uma rocha nos Alpes. Foto do usuário do flickr Björn S...*

Um líquen-solar-elegante crescendo sobre uma rocha nos Alpes. Foto do usuário do flickr Björn S…*

O líquen-solar-elegante cresce em rochas e geralmente tem um formato circular e uma cor vermelha ou laranja. Crescendo muito lentamente, a uma taxa de 0.5 mm ao ano, ele é útil para estimar a idade da face de uma rocha por uma técnica chamada liquenometria. Conhecendo-se a taxa de crescimento de um líquen, pode-se assumir a idade do líquen pelo seu diâmetro e assim determinar o tempo mínimo em que a rocha está exposta, já que um líquen não pode crescer numa rocha se ela não está lá, certo? Esta taxa de crescimento não é tão regular entre todas as populações. Liquens crescendo perto dos polos geralmente crescem mais rápido porque parecem ter taxas metabólicas mais altas para sobreviver a climas mais frios.

Além do seu uso para determinar a idade de uma superfície de rocha, o líquen-solar-elegante é um organismo modelo em experimentos relacionados à resistência aos ambientes extremos do espaço sideral. Ele mostrou ter a habilidade de sobreviver e se recuperar de exposições ao vácuo, a radiações UV, raios cósmicos e temperaturas variáveis por até 18 meses!

Talvez quando finalmente chegarmos a um novo planeta habitável, descobriremos que o líquen-solar-elegante já chegou lá séculos antes de nós!

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Referências:

Murtagh, G. J.; Dyer, P. S.; Furneaux, P. A.; Critteden, P. D. 2002. Molecular and physiological diversity in the bipolar lichen-forming fungus Xanthoria elegans. Mycological Research, 106(11): 1277–1286. DOI: 10.1017/S0953756202006615

Wikipedia. Xanthoria elegans. Available at: < https://en.wikipedia.org/wiki/Xanthoria_elegans >. Access on June 30, 2016.

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