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Sexta Selvagem: Tesourinha-de-Faixa

por Piter Kehoma Boll

Das 334 Sextas Selvagens que este blog teve até agora, 50 foram insetos. Mesmo assim, várias ordens de insetos ainda não foram representadas. Uma delas é a ordem Dermaptera, cujos integrantes são comumente conhecidos como lacrainhas, tesourinhas ou raspelhos, mas isso muda hoje. E a espécie desta ordem que será apresentada aqui é Doru taeniatum, ou tesourinha-de-faixa como decidi chamá-la.

Encontrada através da América, pelo menos desde os Estados Unidos até a Argentina, a tesourinha-de-faixa ocorre em plantações humanas, especialmente milho. Ela possui a aparência típica da maioria das tesourinhas. O corpo é alongado, em sua maioria marrom, mais escuro, quase preto no abdome e avermelhado na cabeça. As antenas são um pouco longas e simples, as pernas são amareladas e as asas consistem de um par anterior endurecido, que lembra os élitros de besouros, e um par posterior maior e membranoso que fica dobrado sob o par anterior quando não é usado para voar. Os élitros são amarelos, com uma listra marrom correndo ao longo da margem, onde ambas as asas tocam, causando um padrão de listras amareladas separadas por uma listra marrom. E como todas as tesourinhas, a tesourinha-de-faixa possui um par de cercos em forma de pinça na ponta do abdome.

Uma tesourinha-de-faixa macho em Pirassununga, Brasil. Foto de Antonio Bordignin.*

A tesourinha-de-faixa é um predador e se alimenta de outros insetos, especialmente ovos e larvas pequenas, apesar de ela também ter sido observada se alimentado de matéria vegetal como pólen e tecidos de folhas. Uma de suas presas é a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, uma mariposa que é uma praga importante de plantações, especialmente do milho. A tesourinha-de-faixa se alimenta tanto dos ovos quando das lagartas da S. frugiperda e é considerada um de seus predadores mais importantes, de forma que sua presença em plantações de milho sempre é um bom sinal, e às vezes, quando os números são grandes o bastante, nenhuma outra forma de controle de pragas é necessário.

Uma fêmea numa mão humana para se ter uma perspectiva de tamanho. Foto de David Aragonés Borrego.*

Os predadores da tesourinha-de-faixa incluem outros artrópodes, como formigas e aranhas, bem como vertebrados como anuros e possivelmente aves. Seus mecanismos de defesa incluem tanto o uso dos cercos para beliscar o predador, principalmente os pequenos, bem como uma defesa química, que consiste num líquido que é borrifado por glândulas que se abrem no quarto segmento abdominal. Esse líquido borrifado é formado de quinonas com um odor forte que pode barrar o ataque de predadores como rãs e formigas.

Sendo ativa tanto de dia quanto à noite, a tesourinha-de-faixa passa a maior parte de sua vida sobre pés de milho. Elas usam o espaço entre as folhas e o caule da planta como abrigo, local de acasalamento e depósito de ovos. Os machos são maiores que as fêmeas, tendo élitros e cercos maiores também. Cada pé de milho possui geralmente só uma tesourinha ou um par formado de um macho e uma fêmea vivendo juntos. Quando um macho quer copular, ele se aproxima da fêmea movendo suas antenas até perto dela, então se move para seu lado e acaricia o abdome dela com os cercos dele. Se ela aceita copular, eles se posicionam em direções opostas e conectam os segmentos finais do abdome. O macho então expõe sua genitália e a insere na bolsa genital da fêmea. Os machos são territoriais e lutam contra outros machos que invadem o território, usando os cercos para se atacarem.

Uma fêmea tomando conta dos ovos em Copándaro, México. Foto do usuário ekdelval do iNaturalist.*

Depois de o par copular, a fêmea põe os ovos e toma um cuidado especial com eles. Ela frequentemente os limpa com a boca, prevenindo infecções de fungos e ácaros. Ela também os defende agressivamente usando seus cercos como arma para beliscar os intrusos. Depois que os ovos eclodem, a fêmea ainda toma conta das ninfas por alguns dias até que elas se dispersem pelo ambiente e comecem a limpar a plantação de pragas como seus pais faziam.

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Referências:

Briceño, R. D., & Schüch, W. (1988). Reproductive biology and behavior of Doru taeniatum (Forficulidae). Revista de Biologia Tropical36(2B), 437-440. https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rbt/article/view/23851

Eisner, T., Rossini, C., & Eisner, M. (2000). Chemical defense of an earwig (Doru taeniatum). Chemoecology10(2), 81-87. https://doi.org/10.1007/s000490050011

Jones, R. W., Gilstrap, F. E., & Andrews, K. L. (1988). Biology and life tables for the predaceous earwig, Doru taeniatum [Derm.: Forficulidae]. Entomophaga33(1), 43-54. https://doi.org/10.1007/BF02372312

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Arquivado em Entomologia, Sexta Selvagem