por Piter Kehoma Boll
Depois dos besouros, que formam a ordem Coleoptera, o segundo grupo mais diverso de insetos é a ordem Lepidoptera, que inclui borboletas e mariposas. Contudo a ordem Hymenoptera tem o potencial de eventualmente ultrapassar Lepidoptera e se tornar mais próxima dos besouros porque muitas espécies novas estão sendo constantemente descritas.
Os himenópteros mais conhecidos são as abelhas, formigas e vespas, mas uma enorme parte de sua diversidade é formada pelas chamadas moscas-serra. Uma destas espécies é comumente conhecida como mosca-serra-do-nabo e cientificamente conhecida como Athalia rosae.
A mosca-serra-do-nabo é encontrada ao longo da Região Paleártica, do oeste da Europa até o Japão, e seu nome comum vêm do fato de suas larvas se alimentarem de plantas da família Brassicaceae, que inclui o nabo, bem como o repolho, entre outros. As larvas são consideravelmente grandes e se parecem com lagartas, tendo uma cor dorsal cinza-escura, quase preta, e são mais claras perto das pernas. Quando elas estão prestes a se tornarem pupas, elas se enterram no solo, constroem um casulo e permanecem ali até se tornarem adultos.
Os adultos medem cerca de 6 a 8 mm de comprimento, as fêmeas sendo maiores que os machos. O corpo e as pernas possuem uma cor amarela a laranja, mais escura na superfície dorsal do tórax, que também possui duas grandes manchas pretas. A cabeça e as antenas são pretas.
Himenópteros no geral são caracterizados por uma determinação sexual única na qual fêmeas são diploides, isto é, possuem dois conjuntos de cromossomos, e machos são haploide, tendo somente um conjunto. Acasalamentos conduzidos em laboratório com a mosca-serra-do-nabo, contudo, foram capazes de produzir combinações anômalas, incluindo machos diploides e machos e fêmeas triploides. Aparentemente isto é possível devido ao sexo ser determinado por um alelo em um cromossomo, de forma que machos são sempre homozigotos e fêmeas sempre heterozigotas, mas isso precisa ser explicado em outra postagem. O fato é que o estudo deste peculiar sistema nesta espécie está ajudando a entender como a determinação do sexo evoluiu em himenópteros.
Uma última coisa interessante a mencionar sobre a mosca-serra-do-nabo é que ela é capaz de contornar os mecanismos de defesa das plantas das quais sua larva se alimenta. Plantas na família Brassicaceae produzem um grupo de compostos chamados glucosinolatos que dão a elas seu odor e amargor característicos, como na mostarda e no rábano-de-cavalo. Estes compostos são usados por plantas como uma defesa contra pragas que se alimentam delas. Contudo a mosca-serra-do-nabo é resistente a estes compostos e consegue sequestrá-los e armazená-los em sua hemolinfa, isto é, o “sangue”, em concentrações muito maiores que as encontradas nas plantas. Quando atacadas por predadores como formigas, as larvas liberam gotas de hemolinfa em uma forma de sangramento defensivo e podem parar o ataque.
A mosca-serra-do-nabo pode ser um incômodo para humanos e suas plantações, mas é certamente um animal fascinante.
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Referências:
Müller C, Agerbirk N, Olsen CE, Boevé JL, Schaffner U, Brakefield PM (2001) Sequestration of host plant glucosinolates in the defensive hemolymph of the sawfly Athala rosae. Journal of Chemical Ecology 27(12): 2505–2516. doi: 10.1023/A:1013631616141
Müller C, Boevé JL, Brakefield PM (2002) Host plant derived feeding deterrence towards ants in the turnip sawfly Athalia rosae. In: Nielsen J.K., Kjær C., Schoonhoven L.M. (eds) Proceedings of the 11th International Symposium on Insect-Plant Relationships. Series Entomologica, vol 57. Springer, Dordrecht. doi: 10.1007/978-94-017-2776-1_18
Naito T, Suzuki H (1991) Sex determination in the sawfly, Athalia rosae ruficornis (Hymenoptera): occurrence of triploid males. Journal of Heredity 82(2): 101–104. 10.1093/oxfordjournals.jhered.a111042
Oishi K, Sawa M, Hatakeyama M, Kageyama Y (1993) Genetics and biology of the sawfly, Athalia rosae (Hymenoptera). Genetica 88(2–3): 119–127. doi: 10.1007/BF02424468
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