por Piter Kehoma Boll
Semana passada apresentei um belo caramujo marinho, a borboleta-do-mar-comum, com seus longos parapódios como asas que lhes permitem nadar. As borboletas-do-mar pertencem a um grupo de gastrópodes marinhos conhecidos como Pteropoda devido a este pé modificado em nadadeiras. Há dois grupos principais de pterópodes, Thecosomata, que possuem concha, e Gymnosomata, que não possuem concha. Enquanto os com concha são chamados de borboletas-do-mar, os sem concha são chamados de anjos-do-mar ou borboletas-do-mar-nuas.
O anjo-do-mar mais popular é Clione limacina, o anjo-do-mar-comum. Seu corpo é em grande parte transparente e, como todos os pterópodes, possui dois parapódios que se parecem com asas e que, junto com o corpo alongado e sem concha, o fazem parecer de fato um anjo. Apesar dessa aparência angelical, o anjo-do-mar-comum é uma criatura terrível.
Sendo um predador, o anjo-do-mar-comum é especializado em comer a borboleta-do-mar-comum. Ambas as espécies compartilham o mesmo ambiente em águas árticas e sua associação é conhecida há séculos. A forma como o anjo-do-mar-comum captura e come a borboleta-do-mar-comum é impressionante e meio assustadora.
Quando um anjo-do-mar detecta uma borboleta-do-mar por perto, ele começa uma perseguição e everte seis cones bucais adesivos da boca, formando uma estrutura em forma de cesto. Essa estrutura é usada para capturar a borboleta-do-mar e, uma vez que o pobre caramujo está preso, o anjo-do-mar gira a concha da borboleta-do-mar até a abertura estar direcionada para a boca do predador.
Depois disso, o terror começa. A pobre borboleta-do-mar já se encolheu toda na concha a essa hora, mas o anjo-do-mar usa um grupo de ganchos quitinosos na boca para perfurar o corpo da borboleta-do-mar e, com ajuda da rádula, puxa o corpo inteiro da presa de dentro da concha, comendo-a toda de uma vez. É provavelmente uma morte horrível para a pobre borboleta-do-mar. Após terminar de engolir a borboleta-do-mar, o anjo-do-mar-comum pode ir atrás da próxima em cerca de dois minutos.
Enquanto o ciclo de vida da borboleta-do-mar-comum é curto, durando só um ano, o do anjo-do-mar-comum é muito mais longo. Como resultado, não há borboletas-do-mar adultas para servirem de alimento para o anjo-do-mar-comum do final do outono até o começo da primavera. Por muito tempo se pensou que o anjo-do-mar-comum passaria esse tempo todo sem comer, e de fato se descobriu que ele pode sobreviver longos períodos de inanição. Contudo análises do conteúdo estomacal do anjo-do-mar-comum revelaram a presença de anfípodes e eventualmente copépodes calanoides, sugerindo que ele possa contar com algumas fontes alternativas de comida em casos de extrema necessidade. Seu alimento principal, contudo, é a borboleta-do-mar-comum sem dúvidas. Eles começam a se alimentar delas quando ainda são larvas, sempre capturando e ingerindo borboletas-do-mar que possuem um tamanho similar ao deles.
Será que o anjo-do-mar-comum conseguirá sobreviver com estas outras presas se as populações da borboleta-do-mar-comum diminuírem com as mudanças climáticas? Acho improvável, e espero que não precisemos chegar ao ponto em que isso se torne uma opção.
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Referências:
Böer M, Graeve M, Kattner G (2006) Exceptional long-term starvation ability and sites of lipid storage of the Arctic pteropod Clione limacina. Polar Biology 30:571–580. doi: 10.1007/s00300-006-0214-6
Conover RJ, Lalli CM (1972) Feeding and growth in Clione limacina (Phipps), a pteropod mollusc. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 9(3):279–302. doi: 10.1016/0022-0981(72)90038-X
Kallevik IHF (2013) Alternative prey choice in the pteropod Clione limacina (Gastropoda) studied by DNA-based methods. Master thesis in Biology, The Arctic University of Norway.
Lalli CM (1970) Structure and function of the buccal apparatus of Clione limacina (Phipps) with a review of feeding in gymnosomatous pteropods. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 4(2):101–118. doi: 10.1016/0022-0981(70)90018-3
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