Sexta Selvagem: Fungo-Casca-de-Laranja

por Piter Kehoma Boll

Fungos apresentam uma variedade de diferentes corpos de frutificação e são quase sempre nomeados com base no que esses corpos de frutificação parecem. Esse é o caso com a espécie de hoje também. Seu nome científico é Aleuria aurantia e ela é comumente conhecida como o fungo-casca-de-laranja. Mas preste atenção: é fungo-casca-de-laranja e não fungo-DA-casca-de-laranja, já que o seguro se referiria a um fungo crescendo em cascas de laranjas, mas não é o caso, já que tal espécie é chamada de bolor-verde.

O fungo-casca-de-laranja é encontrado através da região Holártica, isto é, América do Norte, Europa e Norte da Ásia, e eventualmente em outros lugares, provavelmente por dispersão causada por humanos. Seu habitat principal inclui áreas abertas perto de florestas de coníferas, onde ele vive como saprótrofo, ou seja, como um fungo decompositor com o micélio espalhado através do solo.

Fungo-casca-de-laranja na França. Foto de David Renoult.*

Os corpos de frutificação em forma de copo ou taça aparecem mais frequentemente no outono. Eles possuem uma cor laranja forte causada por carotenoides, especialmente β-caroteno, γ-caroteno e aleuriaxantina. No começo eles são pequenos e bem regulares, mas crescem até 6 cm em diâmetro, quando sua estrutura começa a se tornar irregular ou se rasga, lembrando pedaços de casca de laranja jogados no chão Os esporos que eles produzem ficam sem germinar no solo até a primavera, quando começam a crescer. As temperaturas frias do inverno parecem ser necessárias para os esporos germinarem, já que esporos em culturas de laboratório só germinaram com sucesso após permanecerem congelados por cerca de 3 meses.

O fungo-casca-de-laranja tem sido alvo de estudos farmacológicos devido à presença de uma lectina chamada lectina de Aleuria aurantia (AAL). Lectinas são um grupo de proteínas que se ligam a açúcares ou grupos açúcar de outras moléculas como glicoproteínas e glicolipídios. Elas são encontradas em todo tipo de organismo e possuem funções diferentes. Em animais, por exemplo, elas são importantes para adesão celular. Elas se conectam a glicoproteínas na membrana celular e ligam células vizinhas umas às outras, prevenindo que os tecidos se desfaçam.

Corpos de frutificação achatados e quebrados lembrando casca de laranja nos Estados Unidos. Foto do usuário schwee do iNaturalist.*

Em muitos fungos, bactérias e vírus parasitas, as lectinas são importantes para reconhecer o hospedeiro. Elas também parecem ter algum papel durante a produção de esporos em fungos. A AAL do fungo-casca-de-laranja se liga à fucose, um açúcar que é comumente encontrado na superfície de células de mamífero, insetos e plantas como parte de suas glicoproteínas. O nome fucose vem do fato de este açúcar formar o polissacarídeo fucoidano encontrado em várias espécies de algas-marrons.

A AAL possui vários usos práticos. Devido ao seu comportamento de se ligar à fucose, ela pode ser usada para detectar a presença de fucose em diferentes células. A fucose também está relacionada a alguns tipos de alergia e a AAL vem sendo estudada como um composto para o potencial desenvolvimento de novos antialérgicos.

Mais que suas propriedades farmacológicas, o fungo-casca-de-laranja também é comestível, apesar de não ser tão popular como alimento. Seus corpos de frutificação podem ser comidos frescos ou secados para armazenamento. Devido à presença de carotenoides, o fungo-casca-de-laranja possui potenciais propriedades antioxidantes, apesar de parecer não haver estudos sobre seu valor nutricional.

– – –

Curta nossa página no Facebook!

Siga-me (@piterkeo) no Twitter!

Precisa de ajuda para preparar seu artigo científico? Fale com a A1 Assessoria em Produção Acadêmica. Oferecemos serviços de tradução, revisão, formatação e preparação de figuras a preços acessíveis! Nosso e-mail: a1academica@gmail.com
Se comentar que ouviu falar da A1 pelo Blog Natureza Terráquea, você ganha 10% de desconto na sua primeira tradução conosco!

– – –

Referências:

Fukumori F, Takeuchi N, Hagiwara T, Ohbayashi H, Endo T, Kochibe N, Nagata Y, Kobata A (1990) Primary structure of a fucose-specific lectin obtained from a mushroom, Aleuria aurantia. Journal of Biochemistry 107(2):190–196. doi: 10.1093/oxfordjournals.jbchem.a123024

Ogawa S, Nagao H, Ando A, Nagata Y (2000) Enhancement of ascospore germination from Aleuria aurantia after cold storage. Mycoscience 41:287–289. doi: 10.1007/BF02489686

Ogawa S, Nakajima E, Nagao H, Ohtoshi M, Ando A, Nagata Y (1998) Synthesis of a Lectin in Both Mycelia and Fruit Bodies of the Ascomycete Mushroom Aleuria aurantia. Bioscience, Biotechnology, and Biochemistry 62(5):915–918. doi: 10.1271/bbb.62.915

Roth-Walter F, Schöll I, Untersmayr E, Fuchs R, Boltz-Nitulescu G, Weissenböck A, Scheiner O, Gabor F, Jensen-Jarolim E (2004) M cell targeting with Aleuria aurantia lectin as a novel approach for oral allergen immunotherapy. Journal of Allergy and Clinical Immunology 114(6):1361–1368. doi: 10.1016/j.jaci.2004.08.010

Seaver FJ (1914) North American Species of Aleuria and Aleurina. Mycologia 6(6):273–278. doi: 10.1080/00275514.1914.12020977

Singh U, Bhatt RP, Stephenson SL, Uniyal P, Mehmood T (2017) Wild edible mushrooms from high elevations in the Garhwal Himalaya—II. Current Research in Environmental & Applied Mycology 7(3):208–226. doi: 10.5943/cream/6/2/6

Węgiel J, Kohlmünzer S (2001) Mycelial culture of the fungus Aleuria aurantia and some of its metabolites. Pharmaceutical Biology 39(2):108–112. doi: 10.1076/phbi.39.2.108.6249

Wimmerova M, Mitchell E, Sanchez JF, Gautier C, Imberty A (2003) Crystal structure of fungal lectin six-bladed β-propeller fold and novel fucose recognition mode for Aleuria aurantia Lectin. Journal of Biological Chemistry 278:  27059-27067. doi: 10.1074/jbc.M30264220

– – –

*Creative Commons License Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição Não Comercial 4.0 Internacional

Deixe um comentário

Arquivado em Fungos, Sexta Selvagem

Deixe um comentário