Sexta Selvagem: Vidália

por Piter Kehoma Boll

Ilhas oceânicas são um tesouro de biodiversidade e incluem muitas espécies pequenas e endêmicas. Quando chegamos ao arquipélago dos Açores, encontramos um desses pequenos tesouros na forma de um pequeno arbusto chamado de vidália. Taxonomicamente, a espécie é chamada de Azorina vidalii, sendo a única espécie no gênero Azorina. Os gêneros da família Campanulaceae (as campainhas) são uma bagunça, no entanto, e isso pode eventualmente mudar.

A vidália cresce em todas as nove ilhas que formam os Açores. Ela gosta de crescer perto da costa, especialmente em fendas de rochas costeiras ou barrancos arenosos, mas pode colonizar estruturas humanas, como telhados e paredes. Ela gosta de locais bem expostos e é bem tolerante à brisa marinha. Apesar de ser um arbusto bem pequeno, com cerca de 30 cm de altura, ela pode crescer a uma altura de até 2 m.

Jeitão típico da planta. Foto do usuário experience.NATURE do iNaturalist.*

Mesmo sendo encontrada pelo arquipélago todo, a vidália é considerada uma espécie em perigo. Há somente cerca de mil espécimes adultos no total. Uma das razões de uma população tão pequena pode ser a falta de um polinizador eficiente. As flores são rosa-claras ou brancas e possuem uma forma que sugere que aves sejam os polinizadores prováveis, mas não há espécies de aves nativas que poderiam fazer esse serviço. Vários insetos visitam as flores, incluindo abelhas, vespas, moscas e mariposas, e podem ser os polinizadores atuais, mas provavelmente nenhum é muito eficiente nisso. No entanto a combinação de todos eles parece ser suficiente para manter a população relativamente estável.

As belas flores da vidália. Foto da usuária mariamadalena do iNaturalist*.

Quando abelhas-domésticas visitam as plantas, geralmente estão mais interessadas no látex que a vidália secreta. As abelhas procuram por ferimentos recentes nas plantas onde o látex esteja escorrendo e o coletam, às vezes tendo dificuldade de sair da planta porque o látex é tão pegajoso que as abelhas ficam parcialmente grudadas na planta. Acredita-se que o látex tenha propriedades antimicrobianas, protegendo a planta de infecções bacterianas, e as abelhas provavelmente exploram esse recurso para usá-lo como um antibiótico natural em suas colmeias, talvez o misturando com o pólen para fazer própolis.

Uma planta com flores mais rosadas. Foto de Attila Steiner.*

A população atual da vidália é estável, mas muito pequena, sendo a principal razão de ser considerada em perigo. Para garantir sua sobrevivência pelas próximas décadas ou séculos (e além), é essencial preservar as costas rochosas onde elas se dão bem e, claro, a diversidade de polinizadores que estão fazendo o seu melhor para trazer novas gerações dessa joia açoriana.

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Referências:

Haberle, R. C., Dang, A., Lee, T., Peñaflor, C., Cortes-Burns, H., Oestreich, A., … & Jansen, R. K. (2009). Taxonomic and biogeographic implications of a phylogenetic analysis of the Campanulaceae based on three chloroplast genes. Taxon58(3), 715-734. https://doi.org/10.1002/tax.583003

Weissmann, J. A., & Schaefer, H. (2015). Honeybees (Apis mellifera) collect latex of Azores bellflowers (Azorina vidalii, Campanulaceae). ARQUIPÉLAGO. Life and Marine Sciences32https://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/3906

Weissmann, J. A., & Schaefer, H. (2018). The importance of generalist pollinator complexes for endangered island endemic plants. Arquipélago-Life and Marine Sciences35, 23-40. https://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/4861

Wikipedia. Azorina. Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/Azorina >. Acesso em 29 de abril de 2021.

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