Sexta Selvagem: Cambará-de-cheiro

por Piter Kehoma Boll

[Read it in English]

Após quase quatro meses, estou de volta com uma nova Sexta Selvagem! Os últimos tempos foram muito corridos com outras atividades e tive pouco ou nenhum tempo para me dedicar ao blog, mas eu sempre acabo voltando!

Enfim, nosso camaradinha desta sexta é um arbusto lindo mas também um pesadelo, e você deve conhecê-lo, pelo menos se você for de uma região tropical do mundo. Seu nome científico é Lantana camara, e um dos seus principais nomes comuns em português é cambará-de-cheiro.

Formando algo intermediário entre um arbusto e uma trepadeira, o cambará-de-cheiro pode crescer até 2 m de altura se sozinho ou até 6 m se trepar por outra planta. As follhas são largas, ovadas, um tanto ásperas e possuem um cheiro forte quando esmagadas.

Espécime com flores amarelas na Argentina. Foto do usuário Fede y Vani do iNaturalist.

As flores são tubulares, com quatro pétalas, e dispostas em inflorescências. Elas podem ter uma grande variedade de cores, incluindo branco, amarelo, laranja, vermelho e rosa. As flores externas da inflorescência geralmente abrem primeiro e são mais avermelhadas que as do meio, não só por sua localização, mas também por causa da idade porque, após serem polinizadas, as flores mudam de cor para que os polinizadores saibam que não devem mais perder seu tempo nelas e devem procurar flores mais jovens em vez disso. Isso é o mesmo que acontece com a pulmonária-comum, que eu apresentei aqui cerca de meio ano atrás.

Espécime em Taiwan com uma das flores de flores mais típidas, entre amarelo e vermelho. Perceba como as flores externas, mais velhas, são mais vermelhas, e as internas nem estão abertas ainda. Foto do usuário 葉子 do iNaturalist.

Nativo das Américas Central e do Sul, o cambará-de-cheiro se tornou uma planta ornamental popular por causa da beleza de suas flores. Como resultado, ele foi levado a muitos outros países e se tornou uma espécie invasora na Flórida, no Havaí, na Austrália, na Índia e na África tropical. Nessas áreas, ele é frequentemente descrito como uma erva daninha irritante e já foi até chamado de uma das piores plantas invasoras da história. Os principais efeitos negativos causados pela introdução fora de sua área nativa são causados pelo fato de o cambará-de-cheiro ser tóxico a alguns animais e liberar compostos alelopáticos, os quais reduzem o crescimento de outras plantas ao seu redor. Na Austrália, na Índia e na África do Sul, o cambará-de-cheiro foi introduzido cerca de dois séculos atrás e, apesar das medidas agressivas dos governos destes três países para erradicá-lo, ele continuou a se espalhar mais e mais e atualmente cobre cerca de 2 milhões de hectares na África do Sul, 5 milhões na Austrália e 13 milhões na Índia. É um pesadelo real para os ecossistemas locais.

Na Austrália, o cambará-de-cheiro se tornou um inimigo quase tão ruim quanto o capitalismo. Foto de Adam Morris.

Parece que lutar contra essa espécie é uma batalha perdida no mundo inteiro e novas estratégias que se tratem de nos adaptarmos à sua presença são necessários. Se não podemos com ela, juntemo-nos a ela.

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Referências:

Bhagwat, S. A., Breman, E., Thekaekara, T., Thornton, T. F., & Willis, K. J. (2012). A battle lost? Report on two centuries of invasion and management of Lantana camara L. in Australia, India and South Africa. PLoS One7(3), e32407. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0032407

Wikipedia. Lantana camara. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Lantana_camara. Acesso em 16 de março de 2023.

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